terça-feira, 16 de abril de 2019

Rabón (16 de Outubro de 1818)


Também conhecida na historiografia como Retirada del Rabón, a ação ou combate de Rabón tomou lugar a 16 de Outubro, no seguimento da ofensiva iniciada em Fevereiro pelas forças do Rio Grande, sob o tenente general Joaquim Xavier Curado, sobre Purificacion, Paysandú (tomada a 9 de Abril), e a margem oriental do rio Uruguay. O arroyo de Rabón está 20 quilómetros a sul de Paysandú.

O brigadeiro  João de Deus Mena Barreto é destacado por Curado a comandar uma vanguarda do exército da capitania do Rio Grande e defronta em Rabón a divisão de Fructuoso Rivera, única força oriental presente a leste do Uruguay. Os portugueses obrigam os orientais a encetar uma retirada que dura 12 léguas (60km), assediando-os constantemente.

As fontes são conflituantes na data e no número de efectivos, mas lendo-as, é notavelmente fácil perceber o que aconteceu.

Datas
Isidoro de Maria, no seu Compendio de la Historia de la República, refere que a Retirada de Rabón aconteceu a 3 de Outubro de 1818. No entanto, o relatório onde João de Deus Mena Barreto descreve a ação indica o dia de 16 de Outubro.

Maria indica que Frutuoso Rivera, com os seus 600 homens, defrontou 2000 portugueses. O número é exagerado, conforme indicamos na ordem de batalha, até porque a força portuguesa era uma vanguarda do corpo principal (esse sim por volta de 2 a 3 mil homens).

O uso destas vanguardas pelas forças da capitania do Rio Grande, normalmente atribuídas a um dos brigadeiros comandantes de corpos, eram consistentemente de 500-800, e foi com forças deste tamanho que quase todas as batalhas e ações foram combatidas desde meados de 1816, com a exceção da batalha de Catalán que, pela sua dimensão, requereu todo o exército.
Mesmo na DVR, vinda de Portugal, a vanguarda que foi lançada logo desde a ilha de S. Catarina era constituída por cerca de 700 efetivos. 

Ambos os autores coincidem, no entanto, no que aconteceu, o que permite saber que se referem ao mesmo evento. Adoto a data indicada pelo comandante português, fundamentalmente porque é contemporânea (escrita seis dias após o evento), mas também porque é a parte oficial. Não é de excluir que a confusão de datas, faça referência a um encontro anterior, mas é de presumir que a ação tal como é descrita por ambas as fontes, ocorreu a 16 de Outubro.

ORDEM DE BATALHA

Forças da Capitania do Rio Grande
Brigadeiro João de Deus Mena Barreto

Regimento de Dragões do Rio Grande
Regimento de Cavalaria de Milícias do Rio Pardo
650 praças

(Serviço de vanguarda à Divisão.)

Forças da Liga dos Povos Livres
Frutuoso Rivera

600+ homens

BAIXAS
Portugueses: 1 morto e 5 feridos (2 gravemente) + 650 efetivos (ou +)

Federais: 20 mortos, 2 deles oficiais (40 feridos) (60?) +  600 ou + efetivos
100, entre mortos feridos e extraviados (calculo prudente)


* * *


Carta de João de Deus Mena Barreto ao Ten Gen Joaquim Xavier Curado, 22 de Outubro de 1818

Ill.mo e Ex.mo Snr.

Eu não vou narrar a V. Ex.ª os sucessos de uma ação em que os inimigos tivessem de perder a flor das suas Tropas e todas as coisas que os fazem formidáveis. 

A justa observância que dei as Ordens de V. Ex.ª a maneira por que pus em prática também concebidos detalhes, que tocou a meta da maior prudencial resolução, e militar acerto de um sábio general o valor das nossas tropas; e a retirada dos inimigos resoluto a embaraçar a marcha desta Coluna, é o que eu participo a V. Ex.ª como se ganhasse a mais completa Vitória. 

V Ex.ª tinha confiado às minhas ordens os Regimentos de Dragões e Milícias do Rio Pardo do meu comando estes dois corpos que faziam o todo de seiscentas e cinquenta praças foram por V. Ex.ª destinados a fazer a vanguarda da Divisão, 

[16.10.1818, madrugada]
/ e eles o desempenharam ainda mais na madrugada do dia 16 do corrente em que as nossas avançadas deram sinal do inimigo em tão pequena distância que me não deu lugar mais que a montar, cobrir o campo a toda a rédea e obrar conforme as Ordens de V. Ex.ª anterior recebidas, 

/neste tempo o inimigo ocupava as maiores alturas que nos dominavam: principiava a tirar proibindo as recolhidas de algumas das nossas cavalhadas; e toda a sua força não se podia observar pela desigualdade do Terreno que oferecia proporções para consecutivas emboscadas. 

Nestas circunstancias resolvi destacar o meu regimento, sobre a minha frente, e com Ordem, que dividindo-se aos flancos fizesse as funções de uma forte guerrilha enquanto eu marchava a pequena distância no centro com o Regimento de Dragões prometo a atacar quando o Inimigo oferecesse a frente e desse ocasião oportuna. 

A esta disposição seguiu-se logo o descobrimento do inimigo em número de seiscentos ou mais homens: ele destacou corpos a proteger as suas guerrilhas também aos lados: travou-se um continuado fogo de ambas as partes; e o inimigo não podia resistir bravura dos nossos soldados flanqueadores.

Eu corri ao centro onde o inimigo tinha a sua maior força em ordem de colunas: era forçoso que perdessem o terreno; e não tardou a sua retirada, único meio de escapar ao furor destes dois corpos, que sobejamente têm provado, o maior apego a S. Majestade e reconhecida superioridade às tropas Inimigas. 

O inimigo começou a retirar-se protegido de uma forte retaguarda, que parecia abraçar-se ao fogo dos nossos atiradores: ele tentou verificá-la a passo ou ainda a grande trote sóm.'° Eu não lhe consenti esta Ordem. 

Determinei então que os Corpos atiradores forçassem a sua marcha obrigando a fuga desordenadamente: Eu Ordenei aos Dragões as Linhas de Coluna p.' menear melhor os seus Esquadrões, e a retirar a Batalha q.°° me des embolveçe con a Espada na mão: isto se executou sem haver hum engano: a distancia estava marcada, e a Tropa manobrava como num Campo de Paz onde o Exército não sofre a mais pequena tribulação.

Nesta Ordem, nesta resolução, e a grande galope piquei a retirada do Inimigo pelo espaço de quatro léguas: ele fugiu precipitadamente mas não consegui debandá-lo de todo apesar, que pequenas Partidas se vissem dispersas p. ambos os flancos receosa sem dúvida da Destruição geral que ameaçava a todos os momentos; 

Eu fiz alto quando a maior parte dos nossos Cavalos cansaram inteiramente e o Inimigo ainda fugia como até ali em que viam a sua total ruína. 

Fortuozo fugádo desta maneira perdendo Soldados, deixando os nossos Prisioneiros, e desprezando mais de trezentos Cavalos, nunca tive Vitoria em que ganhasse tanto, escapando com a maior parte, p. Superioridade dos seus Cavalos aos nossos q' V. Ex.ª conhece o estado de fraqueza. 

[Baixas do inimigo]
Do Inimigo pôde-se contar vinte mortos inclusive um Capitão e um Ajudante: Eu calculo a mais porém a distância não deu lugar a um miúdo exame para numerá-los exatamente, Feridos levaram o dobro; pois de três apresentados nos primeiros encontros soube que mais de vinte marcharam nesta qualidade.

[Baixas]
Retomamos os nossos três Prisioneiros e finalmente a perda total do Inimigo, em mortos feridos, e extraviados chegará a cem homens p.' um calculo prudente, a perda da nossa parte limitou-se a um morto e quatro feridos; digo cinco feridos, destes dois gravemente por este motivo Eu rendo as graças ao Senhor dos Exércitos que tanto protege as Armas de S. Magestade.

Eu devo fazer público e para conhecimento de V. Ex.ª a bizarria dos Oficiais, dos Oficiais Inferiores e Soldados dos Regimentos de Dragões e Milícias do Rio Pardo que tive a honra de Comandar naquela ocasião estes Corpos, parecem ter direito a um pequeno sinal em que os deve ter a pessoa de Sua Majestade: p. esta recompensa Eu serei o primeiro a pagar com a mais generosa acção que os Portugueses avaliam sobre todas as beneficiências. 

Eu recomendo a V. Ex.ª com particular distinção ao Ten. Cor. de Dragões Sebastião Barreto Pereira Pinto, o Capitão do mesmo Corpo que serve de Mandante Gaspar Francisco Mena, e em Milícias do Rio Pardo o Ten. Cor. Agregado Francisco Barreto Pereira Pinto, e o Sarg. Mor Graduado Bento Manoel Ribeiro. Todos estes Oficiais são dignos da maior atenção, e portanto merecedores das recomendações de V. Ex.ª a Augusta Pessoa de S. Majestade.

O Capitão Graduado do Regimento de Dragões José Luís Mena Barreto, empregado às minhas Ordens é do conhecimento de V. Ex.ª pela sua aptitude. e reconhecido Valor, que tem provado na presente Guerra: digne-se V. Ex.ª também levá-lo à Presença de S. Majestade. Em relação separada recomendo a V. Ex.ª os Oficiais nela constantes. Eu aproveito esta ocasião de congratular-me com V. Ex.ª por motivo de uma acção que não deixa dúvida dos nossos esforços e lealdade.

Campamento da Real Bragança, 22 de Outubro de 1818
Ill.mº e Ex.mº Sñr Ten. Gen. Com. Joaquim Xavier Curado 
João de Deus Menna Barreto

Archivo Artigas, Tomo XXXIII, pp. 298-300


* * *

Apuntes de Frutoso Rivera

El General Rivera mando en persona las cavallerias orientales en la retirada celebre del Rabón en 1818 suceso que há sido el mas notable en toda la Guerra contra los portugueses españoles e ynperriales por cuanto el Gen.l Rivera llevava un personal de 1700 hombres contra 3800 de las mejores Cavallerias del Continente mandadas por el Te.Te General Juan de Dios Mena Barreto es de notar que las cavallerias unas y otras estavan perfetamente bien montadas; y conbatieron desde las 6 de la mañana hasta las 4 de la tarde, sin que se hubiese podido notar una dispersión por ninguna. por cuanto conbatian en un terreno escaso lo que obligava a los conbatientes a irse a las manos con las espadas y las lansas a cada momento. 
("Apuntes del General Rivera", AGR, in: Apolant, p. 228)

A principios de Octubre el General Curado reuniendo todas sus fuerzas, se puso en marcha al Rincón de las Gallinas, el general Rivera le hostilizó com poco más de 500 hombres; durante la marcha dispuso una atrevida empresa, más no fue completamente feliz por haberse apercibido los-enemigos y preparádose de antemano; el general Rivera acometió las líneas da aquellas com aquel denuedo que le es familiar; más fue vigorosamente rechazado por 2000 hombres de caballería, y se vio precisado a una peligrosa retirada que éterñámente hará honor a les orientales: es claro que toda la división de Rivera debió ser envuelta y destrozada a presencia de una tan enorme masa de caballería; pero la pericia, el valor y el orden la salvaron sin que experimentara más pérdida que 12 soldados muertos, con 2 oficiales íntimos amigos del general Rivera. 
("Memoria de los sucesos de armas...", Versión del MUSEO MITRE. (1811-1820), MMM in: Apolant, p. 274)

* * *


ISIDORO DE MARIA, Compendio de la Historia de la República O. del Uruguay:

«El 29 de Setiembre se movió Curado con la columna por la costa del Uruguay, y el 3 de Octubre se hallaba en la barra del Rabón, confluente con Rio Negro. Allí les apareció Rivera con 600 hombres y no habiendo podido penetrar la columna por estar con mucho cuidado, tuvo que sufrirla carga de 2,000 hombres de caballería sosteniendo una retirada por mas de doce leguas (la famosa retirada del Rabón) que se anduvieron desde la salida del Sol hasta las 4 de la tarde.
En esa retirada mandada personalmente por Rivera, se hallaron el comandante Pablo Castro, los capitanes Julián Laguna, Ramón Mansilla, Tiburcio Oroño, Gregorio Mas, Bonifacio Isas, y ayudantes Manuel Antonio Iglesias y José Palomeque, que se comportaron perfectamente.»

HISTORIA PATRIA

1818 (octubre 4). Famosa retirada del Rabón.
Después de la acción del Queguay Chico, Curado se había dirigido hacia el sur, hallándose el 3 de octubre en la barra del Rabón. Rivera resolvió sorprenderle allí, y marchó contra él al frente de 600 hombres.
Malograda esa operación por la extrema vigilancia de los portugueses, tuvo que emprender una difícil retirada, dirigida com tanto acierto, que logró poner a salvo su ejército, perseguido por Bentos Manuel con 2.000 soldados de la renombrada caballería
riograndense. Batiéndose en Retirada durante diez horas, sólo perdió 12 hombres en un trayecto de 60 kilómetros.


* * *

BIBLIOGRAFIA

- ARCHIVO ARTIGAS, Tomo XXXIII.

- APOLANT, Juan Alejandro, “Apuntes, memorias y notas biográficas del GENERAL RIVERA" in: Boletin Historico, n.º 104-105, Janeiro-Julho de 1965, Estado Mayor General de lo Ejercito, Montevideu. pp. 215-283
- DAMASCENO, Hermano, Ensayo De Historia Patria (Tomo I), 10.ª edição, Barreiro e Ramos, Montevideu, 1955, pp. 409-410
- MARIA, Isidoro de, Compendio de la Historia de la República O. del Uruguay, Tomo IV (1.ª edição), Imprenta de El Siglo, Montevideu, 1900. p. 72