segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Assalto de São Borja (28.9.1816)

A 28 de Setembro de 1816, Andrés Guaçurari y Artigas manda atacar a vila de S. Borja. A vila estava sitiada desde dia 21, mas este terá sido a primeira tentativa de tomar a localidade pela força. Todas as outras seis missões, deficientemente defendidas, foram tomadas, mas S. Borja era a capital e estava bem guarnecida. De acordo com as poucas fontes, nesse dia 10 peças de artilharia com metralha assim como a fuzilaria portuguesa nos muros da horta (Regimento de Infantaria de S. Catarina) foram fundamentais para frustrar a tentativa oriental.

Sítio de São Borja

Quando o sítio teve o seu início a 21 de Setembro, de madrugada, Andresito (Andrés Guaçurari, acima) mandou um ultimatum ao brigadeiro Francisco Chagas dos Santos, comandante militar das Missões. Três dias depois, a 24, o comandante oriental envia um ultimatum ao comandante português para render a praça em três horas. No dia seguinte, a ameaça dos orientais vem renovada com a notícia que apenas S. Borja permanece na mão dos portugueses e apelando ao direito dos povos nativos à unificação de todas as Missões, roubadas, segundo ele, em 1801.

Procederam-se a vários ataques orientais sobre S. Borja durante o sítio, mas limitados, talvez destinados a testar as defesas e encontrar pontos fracos; estes são facilmente rebatidos pela guarnição, bem entrincheirada e com 14 peças de artilharia a apoiar a defesa.

A 26 de setembro, o tenente coronel José de Abreu, que havia impedido Pantaleón Sotelo, a 21 e 22, de passar em Japejú e incorporar-se a Andresito, passa o rio Ibicuí para norte com a sua força. Pelo final do mês já não havia dúvida para Andrés Artigas que os portugueses viriam tentar aliviar o sítio à vila. Tão cedo quanto o dia 23, já Justo Negros, comandante da flotilha oriental no rio Uruguai, havia avisado Andresito do fracasso de Sotelo, que teria a notícia num dia, se tanto.

O Assalto 

Na urgência de tomar S. Borja, e assim ter toda a região, Andrés Artigas ordena um assalto geral que ocorre a 28 de Setembro de 1816. O mesmo falha devido à tenaz resistência portuguesa, nomeadamente a sua artilharia. Andresito terá usado o mesmo dispositivo de 3 de outubro, dias depois, aquando da batalha de S. Borja, destacando metade dos seu milhar e meio de efetivos para o assalto, enquanto a outra metade ficava em reserva, afastada da vila, muito possivelmente na expetativa de um ataque português. Em 3 de Outubro, 700 forças orientais estavam prestes a começar um segundo assalto geral, com 800 um pouco afastadas a oriente, em terreno alto.

A 3 de Outubro, Andresito (ou Artiguinhas, como era conhecido entre os luso-brasileiros) tentará de novo quebrar o sítio, com a pressão de ser flanqueado pelos portugueses que se aproximam  pelo sul, mas é surpreendido pela coluna de José de Abreu que o apanha dividido, mas essa é outra história.


ORDEM DE BATALHA

Guarnição de S. Borja, Exército do Brasil, Capitania do Rio Grande de S. Pedro

Comandante – brigadeiro Francisco das Chagas Santos

c. 200 efetivos

14 peças (de acordo com Moraes Lara). O brigadeiro Chagas dos Santos fala de 10 peças destas carregas de metralha.

Regimento de Infantaria de Santa Catarina - Companhia de Granadeiros, Capitão José Maria da Gama Lobo (uma companhia de granadeiros num regimento português da época seria em estado completo, composta de cerca de 120)

“Alguns dos 200 guaranis que havia” (Chagas do Santos, 9.10.1816)

Será de admitir que metade dos membros da guarnição de S. Borja eram granadeiros de infantaria de S. Catarina e metade milícias guaranis e brancas.

Baixas Portuguesas

5 soldados gravemente feridos e 4 levemente (Moraes Lara, 1817 e 1845).

“2 granadeiros e 2 guaranis queimados, e 2 soldados e 3 guaranis feridos de bala” (Chagas do Santos, 9.10.1816)

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Divisão de Missiones, Liga Federal (com base nas indicações de 3 de Outubro)

Comandante -  Andrés Guaçurari y Artigas

c. 1500-2000 efetivos

Moraes Lara indica o número de orientais para 2000 homens e 2 peças de artilharia. No entanto, José de Abreu indica no seu relatório que encontrou uma força de cerca de 1500 efetivos, no dia 3, dividida em dois grupos, um de 800 e outro de 700.

Sabemos, no entanto, que Pantaleon Sotelo, que não conseguiu passar o Uruguai em Japejúa, a 21, vai por terra e entra por passos mais a norte, juntando as suas forças a Andresito. Se em 3 de Outubro Andresito teria cerca de 1500 homens, em 28 de Setembro teria menos.

Baixas Orientais

De acordo com o brigadeiro Chagas dos Santos, a 9 de Outubro, os orientais teriam sofrido 200 baixas em diversos ataques.

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Extrato da correspondência do brigadeiro Francisco Chagas dos Santos, em carta ao tenente general Joaquim Xavier Curado, a 9 de Outubro de 1816:

“O inimigo foi derrotado por todas as partes [refere-se ainda à batalha no dia 3 de Outubro e dias seguintes]. No sítio perdeu mais ou menos 200 homens, que matámos e ferimos nos diversos choques  e ataques que nos fez, sendo o principal e mais impetuoso no dia 28 do passado [Setembro], em que dez peças nossas, carregadas á metralha, fizeram grande estrago sobre o inimigo, além da nossa fuzilaria, especialmente nos muros da horta, que com o maior empenho procurou assaltar em grande número; mas sendo reforçada opportunamente, se pôz em fuga o inimigo, horrorisado com a nossa resistência, e pelos seus mortos e feridos; não havendo da nossa parte mais que 2 granadeiros e 2 guaranis queimados, e 2 soldados e 3 guaranis feridos de balas.

A nossa guarnição de este povo, composto de 200 portugueses, inclusa a companhia de Granadeiros e alguns dos 200 guaranis que havia, manifestaram muito valor e prontidão em todos os 13 dias de sítio”.


Fontes

- LARA, Diogo Arouche de Moraes, “Memória da Campanha de 1816”, in: Revista Trimensal de História e Geografia, n.º 26, Rio de Janeiro, Instituto Histórico e Geographico Brasileiro, Julho de 1845, pp. 125-328.

Imagens

Na imagem, a batalha de São Borja, combatida a 3 de Outubro, quando Andresito se preparava para a segunda e última investida contra a vila & Uma planta aproximada de S. Borja circa 1816.

domingo, 9 de agosto de 2020

Civil/Exército do Brasil: D. Margarida de Almeida Portugal (Marquesa de Alegrete)

A senhora Dona MARGARIDA DE ALMEIDA PORTUGAL , 5.ª marquesa de Alegrete, nasceu em Santa Clara, Lisboa, aos 24 de Agosto de 1791, filha dos marqueses do Lavradio, D. António de Almeida Portugal e D. Ana Teles da Silva, tendo sido batizada, no mesmo dia, no oratório do Palácio dos marqueses no campo de Santa Clara. 

Em 1807, como muita da corte, viaja para o Brasil. A 1 de Outubro de 1808, casa-se com o 5.º marquês de Alegrete, D. Luís Teles da Silva, na Sé do Rio de Janeiro. 

Acompanhou o marido quando este foi capitão general do São Paulo, em 1811, e depois, do Rio Grande de S. Pedro, em 1814. 

Tem 25 anos de idade quando acompanha o marido na batalha de Catalán, a 4 de Janeiro de 1817, onde, de acordo com testemunhos presenciais, ajudou os feridos no campo após a ação:


Demorámo-nos no Campo da ação o dia 4 e 5, ocupados em enterrar os nossos mortos, e curar os feridos, a senhora Marquesa tem zelado dos doentes com muita caridade, desfiando panos com suas próprias mãos para se curarem as feridas.”

(Tenente coronel Inácio José Vicente da Fonseca, Artilharia da Legião de S. Paulo, em carta a Vicente Ferrer da Silva Freire)

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Um exemplo novo de valor, e de heroísmo serviu para aumentar a celebridade da vitória gloriosa de Catalán: ele foi dado pela marquesa de Alegrete, tão ilustre por suas virtudes como por sangue: a presença do espírito varonil que patenteou no meio dos maiores perigos, e debaixo do fogo inimigo, e com que animava a todos, não foi menos admirável que a prática  incansável de piedade, a que se entregou depois da batalha, em socorro dos feridos , sem distinção de amigos ou inimigos. Ela finalmente se fez  naquele dia  por todos os motivos digna de maior estima, respeito, e admiração do exército.

(Capitão Diogo Arouche de Moraes Lara, Infantaria da Legião de S. Paulo, in: “Campanha de 1816”)

 

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Imagem (topo)

- "Batalha de Catalán", óleo do coronel Pedro Paulo Cantalice Estigarríbia (Hospital Militar de Porto Alegre, RS) 

sábado, 14 de março de 2020

Exército do Brasil: Inácio José Vicente da Fonseca


O tenente coronel de artilharia Inácio José Vicente da Fonseca nasceu em S. Paulo, filho natural do coronel de milícias João Vicente da Fonseca, tendo sido batizado a 28 de fevereiro de 1782.

Em 1804 frequentava o curso de Filosofia na Universidade de Coimbra, tendo no ano anterior assentado praça de cadete na artilharia da Legião de Voluntários Reais de São Paulo. Não é certo quando é promovido a 2.º tenente e dessa forma, a oficial de patente, mas em julho de 1805 pede a confirmação da sua promoção a tenente, pelo que terá sido promovido nos meses anteriores.

Em 24 de junho de 1809 é promovido a 1.º tenente da 2.ª companhia de artilharia a cavalo da legião, sendo já 1.º tenente agregado. No mesmo ano, é promovido a saagento mor, quiçá saltando o posto de capitão da artilharia montada.

A 13 de maio de 1815 é graduado em tenente coronel comandante da artilharia da Legião, sendo efetivado no posto a 6 de fevereiro de 1818.

Escreveu uma carta datada de 8 de janeiro de 1817, ao coronel Vicente  Ferrer  da  Silva Freire contendo a sua perspetiva do que aconteceu nos dias 3 e 4 de janeiro, aquando do combate de Arapeí e da batalha de Catalán, esta última onde participa estando na bataria do centro da linha portuguesa. Esta peça de correspondência, pela sua candura, é uma fonte valiosíssima para a compreensão do que aconteceu no campo de Catalán.

LEIA
- Memórias: tenente coronel Vicente da Fonseca (Batalha de Catalán, 1817):

IMAGEM
- Palácio do Governo de S. Paulo, antigo Colégio dos Jesuítas (J. B. Debret)