sexta-feira, 28 de abril de 2017

Mapas de Campanha do livro "Artigas Conductor Militar"

As seguintes ilustrações foram retiradas do livro "Artigas Conductor Militar", escrito pelo tenente coronel Juan Antonio Vazquez, que pode ser encontrado online aqui.

Para além dos dois planos das operações gerais, chamo a atenção para o plano da batalha de Carumbé, o único que conheço, com indicação da localização geográfica.


Plano das operações a Sul do Rio Negro (1816-17)



Plano das operações a Sul do Rio Negro (1816-17)


Plano da Batalha de India Muerta (19.11.1816)
(leia mais sobre a batalha aqui)


Plano da Batalha de Carumbé (27.10.1816)
(leia mais sobre a batalha aqui)

* * * 

Fonte
- VAZQUEZ, Ten. Cor. Juan Antonio, Artigas Conductor Militar (Coleção General Artigas, n.º 12) Centro Militar, Montevidéu, 1953.

A Segunda Sortida Portuguesa e a Ação de Toledo (3 a 6 de Maio de 1817)


Há 200 anos, cumpridos que eram 3 meses da ocupação portuguesa de Montevidéu e após a sortida de Santa Lucia, em meados de Março, a Divisão de Voluntários Reais d’El-Rei (DVR) preparava-se para o que se esperava ser um Inverno calmo. Fontes, tanto portuguesas como orientais, falam de um aumento na deserção, que iria ainda aumentar. O nosso já conhecido tenente João da Cunha Lobo Barreto mostra-nos bem, na concisão típica de um caçador, o espírito desse Outono meridional entre as tropas portuguesas:

Nada ocorreu digno de memória, à excepção de uma pequena sortida que se fez sobre Toledo, cujo resultado nos ia sendo mui funesto. As deserções foram bastantes, a falta de pagamentos redobraram a ponto de sofrerem os oficiais e soldados toda a qualidade de privações e desgostos. (Barreto, p. 14).
Muitos portugueses sentiam a mudança das estações de forma especial, de outro hemisfério. O que para eles, criados num Portugal fortemente rural, era normalmente uma estação de desabrochar da natureza, flores, dias mais quentes, era ali o oposto, mais frio e igualmente ventoso. Na verdade, os homens e mulheres da DVR já o tinham sentido quando começaram a campanha, nas infindáveis areias do litoral de Santa Catarina e do Rio Grande, mas deste feita era o primeiro ciclo completo. Outros, é certo, agarravam a promessa de aventura do patriotismo republicano.  Na verdade, a vasta maioria apenas seguiu o padrão natural de deserção das fileiras de um Exército dessa era, quando as operações paravam de forma abrupta.

Enquanto que para os Orientais e Artigas, a luta era agora de cerrada guerrilha, durante o ano inteiro, uma luta política, civil e militar, envolvendo todos, para os portugueses era 'apenas' o Real Serviço e a missão tinha de facto sido cumprida – a tomada de Montevidéu. 
Uma boa metade da DVR, contando feridos e doentes, estava permanentemente em serviço de guarnição da Praça. As duas brigadas de Voluntários Reais alternavam nesse serviço, acompanhadas das milícias locais e de unidades da Capitania do Rio Grande.





A Sortida

A maior da condicionantes estratégicas para o tenente general Carlos Frederico Lecor, agora capitão general da Banda Oriental, era a falta de provimentos em Montevidéu. A necessidade havia sido já a prioridade na sortida de Santa Lucia, em Março (com a eventual sobre extensão das forças portuguesas em forragem a causar aliás o desastre do Pintado), e era um problema crescente, dado o tamanho da cidade. A falta de trigo é particularmente premente, a acreditar mas fontes.

Devido, porém, ao acertado sítio montado pela divisão de Frutuoso Rivera, que atacava todas as sortidas portuguesas, qualquer que fosse o seu tamanho, qualquer sortida tinha de ser feita com todos os efetivos da DVR e do Exército do Brasil disponíveis. Rivera, que contava com o excelente comandante de cavalaria Juan Lavalleja, obtinha vários sucessos limitados, principalmente em ações sobre a retaguarda portuguesa, quando em marcha, ou forças isoladas em forragem.

Em Maio, pressionado pela chegada do inverno e pela necessidade de obter os tão necessitados mantimentos para a cidade, Lecor decide mandar forragear em força a única zona ainda não explorada: Toledo. Esta povoação, 15 kms a nordeste de Montevidéu, na estrada para Maldonado, era usada em Março como base para as operações da vanguarda oriental, comandanda por Lavalleja, que todas as fontes apontam como extremamente bem sucedida no combate aos portugueses.

A Parte Portuguesa

A fonte mais diretamente relacionada à sortida que partiu de Casavalles [na verdade, a ocidente do arroio Miguelete, provavelmente o atual bairro de Peñarol] para Toledo a 3 de maio de 1817 é um ofício do tenente general Lecor ao ministro da Guerra, António de Araújo de Azevedo, conde da Barca, datado de 10 de maio. Foi transcrito e publicado no Archivo Artigas, volume XXX, a qual transcrevemos em seguida, com a modernização da ortografia e uma leve adaptação. 

Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor 
Para informação de Sua Majestade tenho a honra de informar a V.a Ex.ª que tendo sido preciso recolher algum trigo a esta praça ordenei ao brigadeiro Bernardo da Silveira Pinto que marchasse sobre a povoação de Toledo com os Corpos seguintes = o 1.º Regimento d'Infantaria, o 2.º Batalhão de Caçadores; Quatro Esquadrões do Regimento [de Cavalaria] dos Voluntarios Reaes d'El-Rey, um Esquadrão composto de Cavalaria de S.Paulo, e Milícias do Rio Grande, e com a Brigada d'Artilharia [a cavalo] da Corte do Rio de Janeiro; 
[3.5.1817] 
No dia 3 do Corrente, saiu de  Casavalles, [nas] imediações desta Praça, em direitura àquela povoação. Artigas e D. Frutuoso Ribeiro [Rivera], reunindo forças muito consideráveis apareceram logo ao passar o [arroio] Miguelete, mas o brigadeiro continou a sua marcha pelo Pastoreiro de Pereira a Toledo, aonde acampou, entretendo somente algum tiroteio com o Inimigo. 
[4.5.1817] 
No dia seguinte, o brigadeiro Bernardo da Silveira Pinto não saiu daquele ponto, começando o serviço, de que estava encarregado: o inimigo intentou, mas inutilmente estorvar esta diligência, e usando do despotismo para com os habitantes do [...] tinha por muitas casas espalhado o trigo, e derramando-o em outras tinha lhe lançado fogo dentro das mesmas casas, as quais teriam sido consumidas pelas chamas, se os nossos soldados não apagassem o incêndio, deixando desta maneira reduzidas a miséria desgraçadas famílias, que não tem outro modo de viver. 
[5.5.1817] 
O brigadeiro Silveira tendo concluído a sua diligência voltou no dia 5 trazendo hum comboy de trigo. Pouco depois de ter saído de Toledo, o inimigo apareceu em força debaixo do comando de Artigas, querendo carregar a guarda da Rectaguarda do comando do major João Joaquim Pereira do Lago do 1.° Regimento d'Infantaria, e composta de um esquadrão de Voluntarios Reaes d'El-Rey, comandado pelo capitão José de Barros e Abreu, e de uma companhia do 2.º Batalhão de Caçadores: o major Lago ordenou ao capitão Abreu que com o esquadrão do seu comando repelisse o inimigo o que (me informa o Brigadeiro Silveira) aquele Capitão praticou, carregando-o com a maior bizarria.  
O brigadeiro Silveira ordenou que outro esquadrão de Voluntarios Reaes d'El-Rey sustentasse aquele, e ambos carregaram vigorosamente. O inimigo foi perseguido por espaço de mais de meia légua [c. 3,3 km], três vezes intentou reunir-se, e outras tantas foi repelido tendo grande número de mortos e feridos. 
O brigadeiro Silveira reunindo depois as tropas continuou a sua marcha, e ficou a noite na Estância de Pedro Guerra no Mangue [Manga]. O inimigo contem-se com respeito o resto do dia, aparecendo apenas em pequeno número em grande distância. 
[6.5.1817] 
No dia seguinte, o brigadeiro Silveira marchou para o seu acampamento de Casavalles, e estando em marcha apareceu na rectaguarda um forte destacamento, entretendo somente um tiroteio bastante vivo com a guarda da rectaguarda, no qual foi ferido o capitão Alexandre Eloi da Legião do Rio Grande.  
O inimigo durante os quatro dias de movimento sofreu a perda entre mortos, e feridos para cima de cem homens; contando-se no número dos primeiros, três capitães, e no numero dos Segundo[s] vários oficiais. A nossa perda nestes dias, ainda que não foi grande, com tudo tivemos oito bravos soldados mortos, e alguns feridos, como V.ª Ex.ª verá do Mapa junto [N.E.: o mapa não está transcrito]. 
O brigadeiro Silveira faz os maiores elogios aos dois esquadrões de [Cavalaria dos] Voluntarios Reaes d'El-Rey, que se engajaram, pois que se conduziram com uma bizarria, e valor superior a todo elogio: louva igualmente a intrepidez, e presença d'espírito, com que o capitão José de Barros e Abreu conduziu o seu esquadrão em umas poucas de cargas sucessivas, e recomenda-o mérito deste oficial, acrescentando que em outras muitas ocasiões, que tem tido de se bater com o inimigo, (depois que está ás suas ordens) se tem portado constantemente da maneira a mais brilhante. 
O brigadeiro Silveira me declara que o cadete do Regimento da Cavalaria da Divisão António Carlos manifestou a maior intrepidez, e valor, e tendo-se distinguido já em outras varias ocasiões, tenho a honra de recomendar a Sua Majestade o mencionado cadete para que seja promovido a alferes, não só pelo seu comportamento, mas até por ser o Cadete mais antigo do Regimento, e o qual mesmo já propus para Alferes, em proposta que remeti a V.ª  Ex.ª em Ofício de 6 de Março próximo passado. 
O brigadeiro Silveira recomenda o 2.° Sargento José Pires do mesmo Regimento de Cavalaria, o qual portando-se muito valerosamente no dia 5 foi gravemente ferido, e sofreu a amputação de uma mão, e tendo a bem disto muita boa conduta, o recomendo a Sua Majestade para ser promovido a Alferes, podendo passar à Infantaria, onde pode fazer o serviço.  
O coronel do 1.° Regimento d'Infantaria João Carlos de Saldanha faz os maiores elogios ao brigadeiro Silveira, pois achando-se junto ao mesmo Brigadeiro, quando o esquadrão do capitão Abreu carregou o inimigo, correu à rectaguarda, envolveu-se com aquele esquadrão, e teve o seu cavalo morto.  
O Major Lago foi  contuso de uma bala no dia 5 comandando a rectaguarda, e portando-se muito dignamente. Igualmente foi contuso o Tenente da Legião de S. Paulo Rodrigo Pinto. 
A Companhia d'Artilharia montada da Corte continuadamente tem servido bem, e o seu Commandante Isidoro de Almada [e Castro], e mais oficiais daquele corpo merecem os maiores elogios. 
Toda a Tropa empregada nos referidos dias mereceu a aprovação do brigadeiro Silveira pois portando-se admiravelmente bem mostrou a melhor disposição e boa vontade.

Deos Guarde a V.ª Ex.ª Quartel General de Montevidéu, 10 de Maio de 1817.
Ill.m° e Ex.m° Snr. Conde da Barca
Carlos Frederico Lecor 
 
Tenente General 
(AA 33: p. 70-sg)


* * *

LEIA TAMBÉM:
O duque de Saldanha e a Ação de Toledo (5 de Maio de 1817)

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Uma Parte Uruguaia

Um ‘oriental contemporâneo’, como se identifica o autor de umas memórias, escritas em 1830, que o historiador Bartolomé Mitre conota com alguém próximo de Frutuoso Rivera, oferece dados importantes sobre a perspetiva oriental da guerra. Pese embora uma grande confusão nas datas dos eventos, que também se podem encontrar, embora menos, no tenente Lobo Barreto, parece corroborar eventos reais. 
No caso específico, este ‘contemporaneo’ refere uma sortida a Toledo, mas coloca-a narrativamente antes da sortida de Março, na região  de Canelones/Santa Lucia, bastante mais a norte (a propósito, o autor coloca esta que sabemos ser em Março, em Setembro, enquanto que coloca a de Toledo em Julho – ambas as datas erradas, e trocadas!). 
O facto é que muito do que descreve parece ser relativo a esta sortida de Maio: a intensidade do assédio oriental à marcha portuguesa, as indicações geográficas a Toledo e Manga, as menções ao trigo que Lecor, ele mesmo, indicou ser o objeto principal da sortida (“comboy de trigo”, etc).
Poderia aqui ser bastante mais pormenorizado a prová-lo, mas creio que esta passagem do texto uruguaio diz respeito à sortida de 3 a 6 de Maio, nomeadamente o facto de ter havido um oficial oriental morto num grande combate (decerto o de 5 de Maio, junto a Toledo). Não houve desde janeiro, nenhuma outra confrontação de semelhante tamanho, senão a de Paso de Cuello, em 19 de março, onde não pereceu nenhum oficial oriental.

Com as precauções que indico em cima, transcrevo a parte do ‘oriental contemporaneo’, pelo que o leitor mais interessado poderá aferir das semelhanças.  De notar, porém, que Lecor não estava em Toledo e Manga, apesar do que escreve o ‘Contemporaneo’. Lecor estava em Montevidéu, no início da sua Vigia, como o colocou Mario Falcão Espalter em 1819:

Por último acosado ya el Baron con los continuos asaltos y perjuícos que sufría de los patriotas, resolvió lhacer una salida que efectuó á principios de Julio, y llegó hasta la quinta de Da. Ana Cipriano, en Toledo, á cinco leguas de Montevideo, de donde regresó después de haber tenido continuas guerrillas con los patriotas, que le dísputaban el terreno á palmos día y noche. El jeneral de los patriotas, Rivera, mandaba estas fuerzas, y en la misma quinta de Da. Ana, hubo un encuentro de no poca consíderacion, pués produjo porcion de muertos de una y otra parte: los portugueses perdieron un mayor, sobrino ó pariente del jeneral Márquez, y otro oficial, y los patriotas perdieron al ayudante del jeneral Rivera, D. Juan Manuel Otero, que murió en el encuentro: el capítan Lavalleja se distinguió en aquel día como acostumbraba hacerlo. 

El Baron, después de haber hecho cargar en carretas que traía todos los trígos y maíz de aquellos infelices moradores de Toledo y Manga, se retiró á Montevideo é hizo ocupar nuevamente a su ejército las posiciones que habían dejado al emprender esta primera salida a la campaña, en la cual no adelantó el Baron, mas que el aumento de granos que trajo á sus almacenes, habiendo dejado alguna caballada cansada de flaca, que llevaba, y no pocos soldados muertos. (Lamas)

Salvo algumas incongruências que poderão levantar dúvidas legítimas, creio que esta descrição diz respeito à sortida de que nos ocupamos agora, em Maio, sobre a região de Toledo e Manga, a leste de Montevidéu.


* * *

Artigas em Toledo

Se Lecor lá não estava, as referências, porém, que encontramos a José Artigas enquanto comandante das forças orientais não são erradas. José Artigas estava de facto presente no combate de 5 de Maio, próximo a Toledo. 
Artigas estava já, aliás, no Paso de la Arena, junto a Florida, pelo menos desde meados de Abril, numa visita que inicia então à divisão de Rivera. Quemos nos informa é o bem informado Lecor, em carta de 24 de Abril ao conde da Barca:

[...] nada tem ocorrido importante, nem pelo que respeita aos nossos movimentos nem aos do inimigo, a não ser a chegada de Artigas ao passo de Arenas, sobre o Santa Lucia Chico, com uma escolta de cem homens: com o fim, dizem, de ver a tropa: observar a influência, que sobre ela tem Fructuoso Rivera, e indagar as transações políticas, havidas entre este e o Governo de Buenos Aires, com quem Artigas  está  muito  indisposto. (AA 32:p.214)

Por Lecor sabemos também que, em 18 de Abril, Artigas passa revista às tropas da Divisão Rivera, ou de la Derecha: cerca de 800 homens de “fusil e lanza”. A sua ordem de Batalha é muito semelhante à da ação de Paso Cuello. É pela parte de D. Álvaro da Costa, tenente coronel deputado do Ajudante General da DVR, escrevendo a um amigo a 7 de Maio, de Montevidéu, que sabemos da presença de Artigas no combate de Toledo.

[...] Enfim agora todo anda activamente. As nossas tropas sairam daqui há 5 dias e hontem recolherão com o trigo que tinham hido buscar, mas antes de ontem tiveram uma acção, (os Inimigos) com dois ou três dos nossos esquadrões e com alguma infantaria do que resultou deixassem no campo três oficiais mortos, e bastantes soldados levando muitos feridos, nós tivemos um oficial ferido e alguns soldados.Artigas que aqui chegou há dias, isto é, chegou a D. Fructos, viu de longe a acção pois de perto nunca entende. [meu sublinhado] (AA 32:219)

Em suporte à presença de Artigas em Toledo, ainda que assistindo de longe,  estão declarações de desertores orientais de Purificación que indicaram, já em julho, que uma tinha rebentado uma sublevação de 200 Libertos em Purificación, que acabou debelada pelos Blandengues, “quando Artigas se ausentó del Ervidero y fue a verse con Fructuoso Ribero”.

Purificación
Adicionalmente, os desertores que nos informam da visita de Artigas a Rivera (Antonio Castillo e Juan Fernandez) dão uma muito minuciosa descrição de como era Purificación, a capital dos Federais na foz do arroio Hervidero com o Uruguai, da sua guarnição, artilharia e disposições, assim como dos conflitos internos nos patriotas orientais. Ficará isso para um próximo artigo.

* * * 
Ponte moderna sobre o arroio de Toledo.

ORDENS DE BATALHA

Coluna Silveira (3 a 6 de Maio de 1817)

Brigadeiro general Bernardo da Silveira Pinto, comandante

1.º Regimento de Infantaria (DVR): c. 1000 efetivos
Coronel João Carlos de Saldanha de Oliveira e Daun

2.º Batalhão de Caçadores (DVR): c. 600 efetivos
Tenente coronel Francisco de Paula Rosado

4 esquadrões de Cavalaria (DVR)

1 esquadrão misto da Legião de Voluntários Reais e São Paulo e do Regimento de Milícias do Rio Grande.

Companhia de Artilharia a Cavalo da Corte do Rio de Janeiro
Sargento mor Isidoro d’Almada e Castro

Retaguarda (combate do dia 5 de Maio, junto a Toledo)
Comandante: Sargento Mor João Joaquim Pereira do Lago (1.º Reg Inf)
- Esquadrão de Cavalaria (DVR) - Capitão José de Barros e Abreu
- Companhia, 2.º Batalhão de Caçadores (DVR)
(- Reforço de um esquadrão de cavalaria)

BAIXAS
(Portugueses) 8 soldados mortos
(Orientais) cerca de 100 mortos e feridos

Contusos
- Sargento Mor João Joaquim Pereira do Lago (1.º Reg Inf, DVR), no combate de 5.5.1817
- Tenente Rodrigo Pinto (Legião de S. Paulo)
- Alferes António Félix Meneses (1.º Reg Inf, DVR), no combate de 5.5.1817

Feridos
-Capitão Alexandre Eloi (Legião do Rio Grande), no Combate de 6.5.1817
- 2.º sargento José Pires (Cavalaria, DVR), no combate de 5.5.1817 - amputação de mão

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Fontes
- Archivo Artigas XXX: 64-67
- BARRETO, João da Cunha Lobo, “Apontamentos historicos a respeito dos movimentos e ataques das forças do comando do general Carlos Frederico Lecor, quando se ocupou a Banda oriental do Rio da Prata desde 1816 até 1823 (…)”, in:Revista do IHGB, vol. 196, Julho-Setembro 1947, pp.4-68.
- “Memoria escrita en 1830 por un oriental contemporaneo”, in: LAMAS, Andrés (Ed.), Coleccion de Memorias y Documentos para La Historia y la Jeografia de los Pueblos del Rio De La Plata (1.º Volume), Montevidéu, 1849.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Relação das munições de guerra,e mais apetrechos, que são necessários para as duas Brigadas de Artilharia a Cavalo


Relação das munições de guerra,e mais apetrechos, que são necessários para as duas Brigadas de Artilharia a Cavalo da Divisão de Voluntários Reais do Príncipe, além das que estão já prontas no Arsenal, como consta da Relação de S. Ex.ª o Senhor Tenente General José António da Rosa.


Carros de nova construção para Obuses de 5 ½ polegadas ... 4
Carros de nova construção para as Peças de calibre 6 ... 11
Archivos ...2
Barris de Polvora de sobrecelentes ... 2
Martellos de orelhas ... 7
Facas flamengas ... 12
Níveis d’água ...2
Balanços de pesar pólvora com pesos até 3 (?)
Facões para desbastar espoletas das granadas ... 2
Máquina de tirar espoletas ... 1
Baldes de folha ... 13
Tranças enxofradas ...288
Madexas de fio de guita ... 12
Cartuxos vazios de calibre 6 ... 200
Lanternas de furta fogo ... 12
Archotes ... 120
Machados ... 20
Machadinhas ... 12
Podões ... 12
Picaretas ... 12
Alviões ... 12
Enxadas ... 12
Pas de ferro ... 12
Galleras ... 2
Paus de bolêa de sobrecelentes ... 46
Pés de galo ... 4
Cornetas ... 4
Espadas de cavalaria com cinturões ... 284
Manoplas ... 180
Parelhas d’arreios de tronco ... 14
Parelhas d’arreios de sota, ou dianteiras ... 30
Selins arreados para montarem os artilheiros ... 156
Selins arreados para montarem os oficiais ... 13
Mantas para baixo dos selins ... 435
Peitoraes com tirantes de coiro para os cavallos dos artilheiros ... 136
Cabeçadas com prizões de ferro ... 435
Bornaes para grão ... 435
Aparelhos de limpeza ... 300
Tesoiras para tosquear cavallos ... 30
Franceletes com fivellas ... 300
Piquetes de corda com seus pertences ... 2
Mallas de coiro para garupa ... 284
Tirantes de corda de sobrecelentes ... 60
Manjedoiras  para 435 cavalos
Barracas de capitão ... 4
Barracas para subalternos ... 5
Barraquins ... 50
Caldeiras para rancho ... 50
Mações para soquetes de calibre 6 ... 40
Fiminellas para os ditos ... 40
Maças de soquete de calibre 9 ... 20
Fiminellas para as ditas ... 20
Maças de soquetes de calibre 18 ... 10
Fiminellas para as ditas ... 10
Resmas de papel cartucinho ... 20
Portavellas de coiro ... 12
Pares de pistolas com os seus coldres ... 284
Cartucheiras de cavalaria com 20 cartuchos embalados para cada uma ... 284
Carteiras de cavalaria ... 284
Esporas (pares) ... 284


Para o laboratório fulminante

Atacadores de latão vazados para espoletas de papel ... 20
Cabos para os ditos ... 20
Atacadores de ferro calçados de cobre com as cabeças chumbadas para velas .. 8
Atacadores de ferro sortidos para espoletas de pau ... 20
Macetas de pau sortidas ... 12
Formas de pau com anéis de ferro para carregar velas ... 12
Funis de folha de Flandres para carregar espoletas de papel ... 30
Ditos para carregar velas ... 12
Ditos para carregar bombas, ou granadas ... 4
Jogo de medidas de onça até arratel ... 1
Marco de pesos ... 1
Balanças (par) ... 1
Compasso de pontas curvas ... 1
Dito – direito pequeno ... 1
Régua graduada ... 1
Facas flamengas ... 25
Tesoiras grandes ... 2
Ditas pequenas ... 4
Peneiros finos ... 6
Ditos de crina ... 2
Crivos ... 1
Imprimidor de ferro para cabeças d’espoletas de papel ... 1
Vazador de ferro para cortar as cabeças das ditas ... 1
Torno de ferro pequeno ... 1
Torno de mão ... 1
Ditos de madeira para bancos ... 2
Martelo de cobre com orelhas ... 2
Ditos de ferro ... 2
Dito pequeno ... 1
Limas sortidas com cabos ... 10
Goiras sortidas ... 4
Formões ... 2
Caldeiras de arame para massa ... 2
Dito pequena para massa de polvora ... 1
Serra pequena ... 1
Verrumas(?) sortidas ... 8
Ferros sortidos para brocas ... 8
Chumbadas de brocas ... 1
Broca de peito ... 1
Alicates sortidos de ponta aguda ... 2
Ditos de ditas chatas ... 2
Arame para (cabeças?) de espoletas de papel (...) ... 4
Picas (?) feitas ... 12
Arame delgado (...) ... 4
Pranchada de chumbo pesada ... 1
Formas de pau para ballas de iluminação ... 12
Réguas de 4 palmos de comprimento e meio de largo ... 2
Ditas de 2 palmos ... 1
Esquadro ... 1
Calcadores de pau para vellas ... 2
Cocharras (?) de cobre para carregar as ditas ... 12
Ditas de ferro para espoletas de papel ... 2
Mactas/Maetas sortidas ... 6
Celhas para fazer composições ... 6
Peles de pergaminho ... 100
Ditas de lixa ... 3
Resmas de papel para espoletas ... 8
Ditas de dito cartão para vellas ... 16
Folhas de papelão para cabeças d’espoletas ... 50
Regoa com passadeira de todos os adarmes ... 1
Formas de pau sortidas de todos os adarmes ... 100
Fio de vella (...) ... 6
Passadeiras para todos os calibres de Artilharia
Goma Arabia (...) ... 16
Cocharrinhas de 2 e 3 oitavas para cargas de espolletas de pau ... 8
Broxas partidas ... 6
Maquina de tirar espoletas de bombas e granadas ... 1
Banco para carregar espoletas de pau ... 1
Repuchos de pau sortidos para calcar as espoletas de bombas ... 12
Serrotes sortidos ... 4
Berbequim com quatro ferros sortidos para brocar ... 1
Caixas de folha de flandres de 12 polegadas de comprimento, 4 de largura, e 4 de altura ... 12


Lisboa, 12 de Agosto de 1815
Maximiliano Augusto
Major Comandante


Fonte
Arquivo Histórico Militar, cota AHM-DIV-1-16-045-6, imagens 56 a 62

quinta-feira, 20 de abril de 2017

"Artigas y los Perros Cimarrones" (Orestes Araújo, 1923)


Víctima la Banda Oriental de las ambiciones de los portugueses y del encono de algunos políticos argentinos, que por odio a Artigas habían negociado en Río Janeiro la venida de los primeros, vióse en breve convertida en un inmenso campamento, pues si de una parte las tropas extranjeras ocupaban grandes zonas de territorio, el caudillo oriental reunía sus huestes en el Norte a fin de detener la atrevida marcha de los invasores. 

Chocaron con estruendo las armas de ambos contendientes ; sangre patriota y lusitana enrojeció la campaña uruguaya, y el luto y la desolación hicieron presa en el ánimo de las gentes más timoratas, de las abandonadas mujeres, de los impotentes ancianos y de los indefensos niños, que creían a su patria para siempre uncida al carro triunfal del conquistador. 

Nutridas divisiones de soldados al mando de aguerridos generales cruzaban los campos, cometiendo al pasar todo género de atropellos, ultrajando a sus pacíficos moradores y, despreciando las conveniencias y respetos a que son 
acreedores los ciudadanos de un país civilizado, entregábanse a los mayores excesos en la propiedad y en las familias, sin que ninguno de sus jefes se opusiese a semejantes atentados. 

El comercio languideció extraordinariamente la industria ganadera, que sólo medra y prospera con la paz, casi extinguióse, y disminuyó la población, pues los habitantes huían del contacto de sus conquistadores. 

La guerra de la invasión duró tres años seguidos, — dice el escritor brasileño Pereira de Silva. — Las tropas portuguesas encontraron resistencia, combates, celadas, oposiciones de toda especie, por todas partes y en todas las localidades de la provincia. Talados quedaron los campos, destruidas las poblaciones, desiertos los establecimientos de cría de ganado, industria principal y casi única del Estado.

Perro cimarrón uruguayo: Cachorro de 2 meses

Rudos combates había sostenido Artigas y varias derrotas diezmaron sus filas, aunque nunca los descalabros que sufriera fueron bastante a decidirlo a deponer las armas. 

Ejemplo de ello tenemos en la acción del arroyo del Catalán, que tuvo lugar el 4 de enero de 1817, considerada como una de las batallas más prolongadas y sangrientas que registra la historia de la independencia uruguaya. Todo el día se luchó allí con desesperados bríos, y si por desgracia para la causa de los orientales, quedaron miles de éstos en el campo de batalla, el triunfo de los invasores fué tan laborioso, que cubrió de honra a los vencidos, quienes patentizaron una vez más su incomparable heroísmo, su amor a la patria y su culto a la libertad. 

Creyó entonces Lecor que aquel era el momento más adecuado para entrar en arreglos con Artigas, a fin de que pacíficamente se sometiese, y le propuso el goce del sueldo de coronel de infantería portuguesa, su retiro a Río Janeiro u otro cualquier punto del reino de Portugal para residir, a condición de que disolviese las ya reducidísimas fuerzas que le quedaban y entregase sus armas y municiones. 

«Diezmadas se encontraban las fuerzas del Libertador; rota, aunque no abatida, su bandera, — dice el Sr. Arreguine ; — sombrío el porvenir, y sin más esperanzas que la de la muerte; » pero el guerrillero oriental rechazó con dignidad las tentadoras proposiciones que se le hacían a cambio de un vergonzoso sometimiento, contestando al enviado del jefe portugués: 

«— Dígale a su amo que cuando me falten hombres para combatir a sus secuaces, los he de pelear con perros cimarrones. » 

« Y no fué vano alarde la frase, — dice el mismo autor, — pues en más de una refriega también éstos tomaron parte a favor de los republícanos, de quienes parecían ser aliados en aquellas horas de correrías y vicisitudes en que los americanos compraban la independencia al precio de la vida.» 

* * * 

Orestes Araújo, Episodios Historicos, Montevideú, Dornaleche Hermanos, 1923, pp. 35-39
(Leia o livro todo aqui)

Orestes Araújo (Mahón, Menorca, España, 22 de octubre de 1853 - Montevideo, 31 de agosto de 1915) fue un profesor, maestro, periodista e historiador uruguayo. Se radicó en Montevideo en 1870 y comenzó a trabajar como redactor del diario La Paz, fundado por José Pedro Varela. Colaboró con él y después con su hermano Jacobo a nivel de inspección de escuelas, tarea que le ocupó hasta 1889.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Leituras: Modo de combater no país e lições da campanha de 1816-1817 (SargMor Francisco de Paula Leal, 1817)


Francisco de Paula Leal
Divertimentos Militares
Rio de Janeiro, Imprensa Americana, 1837.
Nos annos de 1815 e 1817, Quando era Sargento Mór graduado no Regimento de Dragões da Provincia do Rio-Grande do Sul.

Ficheiro pdf com o livro completo disponível 
na Biblioteca Digital do Senado Federal aqui


O Autor
Francisco de Paula Leal, natural do Rio de Janeiro e bacharel de Matemática, era sargento-mor graduado do Regimento de Dragões do Rio Grande de São Pedro em 1816 e 1817, tendo depois transitado a lente substituto de Matemática na Academia Nacional e Imperial de Guardas Marinhas. A certa altura, até 1837, terá transitado à Imperial Marinha, com a patente de capitão de fragata.

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Vila do Rio Pardo, RS (wikicommons)

A Disciplina Militar prestante, 
Não se ensina, Senhor, na fantasia, 
Sonhando, imaginando ou estudando
Senão vendo, tratando e pelejando. 
(Luís de Camões)


Acerca da obra
Estas observações foram escritas em setembro de 1817, e são publicadas 20 anos depois. Não sendo memórias narrativas no sentido clássico, este texto manifesta-se claramente como uma peça memorialista, legando-nos a perspetiva pessoal de quem testemunhou os eventos.
Este livro permite-nos uma visão aproximada de como era organizado o regimento de Dragões entre 1815 e 1817, assim como eram armados, equipados e treinados os seus efetivos. É uma fonte inescapável, para quem queira saber mais sobre as guerras do sul do Brasil, principalmente as que decorreram há 200 anos.

O livro contém apenas 4 documentos, um escrito em 1815 e os outros dois em 1817. O primeiro (pp. 9-40) é o conjunto de regras da 4.ª companhia, que Leal comandava à altura,, aquartelada então na vila do Rio Pardo. O segundo documento (pp. 41-65)  trata “de hum plano para o estabelecimento da boa harmonia entre todos os indivíduos de hum Regimento qualquer”, em que o autor analisa o papel de cada membro do regimento. Ficamos aqui a saber, por exemplo que o oficial é o ‘arrimo’ do soldado, no sentido em que guia pela exemplo, e o sargento é o ‘verdugo’ do soldado, no sentido em que o conduz à plena disciplina militar. O terceiro (pp. 67-82) é uma proposta de composição do regimento, assim como observações acerca do equipamento e fardamento do regimento. Por último, o quarto documento (pp.83-101, fim), dá “as lições competentes para o ensino do  sobredito Regimento”, incluindo o período de tempo em que as diversas partes da instrução devem ocorrer.

Após listar e descrever um conjunto de instruções para o treino do regimento, no que diz mais diretamente respeito ao que um cavalariano necessita de saber para as operações na América, o autor desculpa-se do que considera a abordagem de poucas competências (ainda que as apropriadas, como refiro antes, às operações militares), fazendo uma breve análise sobre o teatro de operações brasileiro face ao europeu, que considera mais clássico e técnico.

Ao fazer estas observações, Francisco de Paula Leal lega à posteridade uma observação técnico-profissional das táticas utilizadas tanto do lado português, como do oriental. Mantenho a ortografia original de 1837.

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TRANSCRIÇÃO 
(Modo de combater no país e lições da campanha de 1816-1817), escrito em Setembro de 1817, no Passo de S. Maria [pp. 99-100]

187. A Guerra n'este Paiz varía muito, e he por isso que com a experiencia de oito anno propuz sómente as evoluções acima referidas, como as mais utéis e precisas no Paiz para disciplinar o soldado; pois que as grandes manobras devem fazer-se conforme as circunstancias, ainda que com os inimigos actuaes nenhumas são precisas, e basta só ter constancia para lhes resistir ao seu primeiro impulso que he forte  (pois tem algumas vezes chegado a numa bela hora, como succedeo em Catalam, na acção a que assistio o Exm. Marquez de Alegrete; em Carumbé, na acção commandada pelo Brigadeiro Joaquim de Oliveira Alvares; nos Potreiros de Arapehy, acção commandada pelo célebre  Tenente Coronel José de Abreo,  &c.), e resolução para cahir sobre elles, quasi desordenadamente, debandando muitas vezes, porêm sempre com alguma  porção de gente reunida, para não acontecer morrerem tantos soldados, como até aqui tem succedido. 

188. Quasi em toda  a Europa, tenho ouvido dizer e tenho lido que a ponta da baioneta he quem costuma decidir as acções, ou quem faz apparecer a victoria, começando as  cavallarias as suas escaramuças, ganhando posições vantajosas, &c. 

189. N'este Paiz succede ao contrario (conforme tenho observado nas acções da presente campanha, a que tenh0 assistido);  não se trata de ganhar posições, e só sim se trata de decidir a acção, á espada e tiros ele pistola, pelas cavallarias que he a força maior do Paiz;  fazem-se enganos á vista do inimigo (ou como se costuma aqui dizer, negacêa-se o inimigo);  fazem-se-lhe emboscadas  para ou apanhar de surpreza o inimigo, ou para surprender-lhe as cavalhadas e gados de municio, roubando-lhas, afim  de os enfraquecer, deixando-os a pé, se for possivel, para então  cahir sobre elles com áfoiteza, que se entregão logo todos  prisioneiros sem resistencia;  pois que,  se se avistão no campo duas linhas, o que se trata  he chegarem-se huma a outra (ao que os Hespanhoes chamao entreverár), e ou vencerem ou morrerem: a que fôr mais forte vence de certo a outra. Finalmente, na Guerra da Europa mata-se e morre-se com ordem; aqui, ao contrario, quasi que se pode dizer, mata-se e morre-se em desordem.