domingo, 6 de abril de 2025

Na Estrada de Montevideu



No final de 1814 foi mandada aprontar uma divisão de voluntários, a ser composta de pouco menos de 5000 militares das três armas, com o objetivo de intervir no sul do Brasil. Este blogue é uma humilde contribuição para o conhecimento da história da Divisão de Voluntários Reais do Príncipe, e depois d'El-Rei, entre 1815 e 1824, assim como das tropas da Capitania do Rio Grande.
A campanha de 1816 foi um esforço conjunto de mais unidades do Exército do Brasil e de Portugal num teatro de operações que ia desde a costa atlântica à costa do rio Uruguai, com quatro colunas distintas.
Apesar de adotar uma perspetiva portuguesa do conflito, este blogue procura também a perspetiva oriental a fim de traçar a mais fiel possível descrição dos acontecimentos desta guerra.

AS BATALHAS
As ações, sítios e batalhas da campanha, com ligação aos artigos disponíveis sobre elas, com ênfase forte nos memorialistas.
AS BIOGRAPHIAS
Em constante atualização, aqui pode encontrar ligações à biografia de alguns dos militares, portugueses e federais.
OS MOMENTOS
Os artigos sobre momentos que não envolvem combate.
OS VOLUNTARIOS
Listas e caracterização dos militares da Divisão dos Voluntários Reais.
AS TÁCTICAS
Os artigos predominantemente da análise tática militar.
AS MEMORIAS
As vozes dos combatentes e testemunhas dos eventos.
UMA BIBLIOGRAPHIA 

1815 | 1816 | 1817 | 1818 | 1819 | 1821 | ... | 1823

Embarque da DVR a 29 de Maio de 1816, na Praia Grande (J. B. Debret)

sábado, 5 de abril de 2025

Bento Manuel (Gustavo Barroso, A Guerra de Artigas, 1930)


 

““Sái logo ao encontro de Artigas, que vinha em marcha 
com 600 homens de cavalaria, obriga-o a retroceder e persegue-o”.”
(Rio Branco – Efemérides)

Naquela luminosa manhã de maio, em frente ao acampamento do exercito brasileiro do Quaraim, estava formada uma extensa linha de cavalaria: quinhentos e sessenta homens escolhidos das milícias do Rio Grande e da legião de São Paulo. Comandava-os o tenente-coronel Bento Manoel Ribeiro e, lentamente, o general Curado passava-lhes revista.
Era um homem alto, espadaúdo, forte. Nariz aquilino. Queixo proeminente. O alto bicornio a três pancadas. Muito firme na sela, muito espigado, apesar dos seus setenta e um janeiros. Nascido nos sertões goianos de Jaraguá, o conde de S. João das Duas Barras tinha a rijeza peculiar dos vaqueiros do nosso áspero interior. Veterano das campanhas platinas, seus dias de guerra contavam-se por vitorias, e seu nome era o terror dos orientais desde a batalha de Catalán.
Curado examinou os soldados um a um. Seu olhar percorria rápida e agudamente o individuo, as armas, o cavalo, os arreios. Depois, verificou o estado da cavalhada estendida no coice da coluna. A impressão de tudo foi favortavel. Voltou à testa da força e fez um sinal ao comandante. Bento Manuel aproximou-se.
─ Vá, disse o general, passe o Uruguai e encrave todas as baterias dos gringos!

***

Soltando vivas entusiastas, o destacamento partiu rumo à fronteira. Dois dias após, na noite de 14 de maio, atravessava o rio sem ser pressentido pelo inimigo, na Vuelta de San José, e penetrava no território de Entrerrios. Ao alvorecer o dia seguinte, galopando pela margem direita do Uruguai, a cavalaria brasileira avista uma força contraria que se desdobra em escalões pelas coxilhas. Os paulistas espalham-se em atiradores. Os riograndenses preparam as lanças. São os entrerrianos do coronel Gorgonio Aguiar, que defendem a bateria da Calera de Barquin, assestada num teso e destinada a bater o passo do rio. Artigas pretendia com essas baterias impedir a esquadrilha de Sena Pereira de subir o Uruguai.
O clarim brasileiro, ao amortecerem as descargas dos atiradores que vão recolhendo ao grosso devido ao avanço do inimigo superior em numero, dá o sinal de carregar. As duas linhas de cavaleiros enovelam-se, tapesapeando as lanças e sabres. Gritos, uivos, pragas! E o valente Bento Manuel, no meio do entrevero, a dar ordens e a bater-se como um simples soldado. Sem campo de tiro livre, a bateria inútil jaz no alto da Calera. Depois de uma hora de resistência, os artiguenhos afrouxam a luta e dispersam-se, lanceados e tiroteados. Gorgonio de Aguiar entrega a espada ao chefe sorocabano. E os guaranis que guardam a nossa cavalhada preparam uma balsa para levar a artilharia contraria ao território do Rio Grande.

***

Após um descanso de horas, a carneação para o almoço, o tratamento dos feridos e o enterro dos mortos, de novo o destacamento audaz continua a marcha vitoriosa. Entardece quando outra fila de cavalaria corôa as coxilhas ribeirinhas ao Uruguai. São os soldados do tenente-coronel Faustino Tejera que defendem a bateria de Perucho Berna, feita com canhões tomados outrora a Balcarce. Novamente se entestame topam as cavalarias a arma branca. Os entrerrianos são outra vez batidos lamentavelmente. E outras balsas levam as peças artiguistas para a margem brasileira.

***

Á noite, Bento Manuel acampa na bateria abandonada no Passo de Vera, cujos canhões encrava.

***

Mal nasce o dia 16, está a cavalo. O toque de ensilhar foi dado antes do sól. E a força vitoriosa galopa para a villa do Arroyo de la China, que hoje se denomina Concepción del Uruguay, base de operações de Artigas. Por volta de onze horas da manhã, entra por ela adentro. Seus clavineiros apêam-se, correm ao cais e apoderam-se de barcos atracados, cheios de munições de guerra e bôca. Os lanceiros ocupam todas as entradas da povoação. Nisto, vêm dizer-lhe que, a marchas forçadas, Artigas em pessôa corre em socorro da vila. O clarim toca logo chamada ligeira; depois, ensilhar. Já a cavalo, os oficiais  olham espantados para Bento Manuel. E ele, sorrindo:
─ Vou bater Artigas em campo raso!
***
O encontro deu-se a pequena distancia do Arroio da China. Os seiscentos cavaleiros que o ditador trazia não resistiram ao embate dos centauros que Curado escolhera e revistara para aquela feliz expedição. Em meia hora, eram debandados em todas direções, perdendo Artigas até o seu próprio estandarte!
Bento Manuel perseguiu-o umas três leguas.

***

Uma semana mais tarde, em frente ao acampamento do exercito brasileiro, o conde das Duas Barras passava de novo revista aos guerrilheiros que regressavam do audacioso reide. Bento Manuel, acompanhando-o por entre as fileiras perfiladas, dava-lhe conta do seu êxito:
─ Trouxe oito canhões, treze barcos, trezentos e sessenta e seis prisioneiros, quinhentas espingardas, dezoito carretas com munições e despojos, duzentos cavalos, um estandarte e somente faltou…
Deteve-se com um sorriso enigmático nos lábios. O velho Curado, que lhe conhecia de sobra o pendor para a bravata e o exagero, espicaçou-o:
─ É verdade, tenente-coronel, falta uma coisa que você não trouxe e estou adivinhando…
─ Pois diga, general.
─ Foi Artigas…
─ Isso mesmo. Mas eu só não o trouxe, porque…
─ Por que? indagou Curado.
─ Porque ele fugiu…

Fonte
BARROSO, Gustavo, A Guerra de Artigas, s/l, Ed. Getulio M. Costa, [1930]. pp. 109-116

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Carta Régia aos governadores do Reino (7 de dezembro de 1814)

Governadores do Reino de Portugal e dos Algarves.

Amigos. Eu, o Príncipe Regente vos envio muito saudar, como aqueles que amo e prezo. Achando-se finalmente terminada a custosa luta, em que entrarão as potências aliadas pela salvação, e liberdade da Europa; e devendo hoje esses reinos a sua independência, e segurança ao incomparável valor, e disciplina do Exército, que ora coberto de glória acaba de voltar ao seu país, aonde é de esperar, e muito para desejar, que não se requeira tão cedo o emprego de uma tão considerável força armada. 

Sendo ao mesmo tempo notória, e inegável a urgente necessidade que se apresenta nesta ocasião de pôr o importante continente do Rio Grande de São Pedro a salvo de qualquer insulto, ou intenções hostis da parte dos povos do Rio da Prata, onde posto que exista um governo incerto, e instável; tem contudo no meio das suas dissensões, e divisões de partidos, exercido o desenvolvimento militar, e aumentado por isso mesmo a maça da Força, a ponto que é já muito superior àquela, que regularmente se poderia destinar á defesa daquele continente, a respeito de cujos habitantes não deixaram semelhantemente de empregar tudo que são meios sediciosos; exigindo portanto todas estas considerações que se tornam sem perda de tempo aquelas prudentes medidas de precaução, que sejam conducentes a preservar a integridade, e segurança de uma província, tanto mais interessante, quanto dela depende a subsistência da maior parte das capitanias marítimas deste Estado do Brasil.

Tenho determinado, por todos estes respeitos, que desse Reino se enviem com a maior brevidade possível duas brigadas de caçadores, compostas na conformidade do plano, que com esta mando remeter, a qual tropas se deverá sempre considerar como destacada do Exército desse reino, aonde haverá de voltar logo que cessem os motivos, que ora fazem necessária esta medida, ordenando igualmente que se denominem = Voluntários Reais do Príncipe =, por ser esta a denominação, que julgo mais própria dar-lhes, quando estou certo da boa vontade, e satisfação, com que esta tropa se prestará a embarcar para uma expedição que se dirige a firmar a segurança de uma parte daquela mesma monarquia, por cuja independência arrostou até agora toda a sorte de perigos, e trabalhos; sendo indubitável que por esta minha real resolução ficará consolidada de uma maneira permanente aquela prosperidade, que deve resultar da segurança dos mútuos interesses, e relações entre este Estado do Brasil, e esses reinos, que enlaçam necessariamente a força, e o poder destas duas grandes partes da monarquia portuguesa. 

Pela Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha tenho mandado expedir nesta mesma ocasião as ordens convenientes para os transportes; e pela Repartição do meu Real Erário se dirigem aquelas, que devem estabelecer, e regular os meios necessários para a manutenção desta Tropa, durante a sua permanência neste continente. 

O que tudo me pareceu participar-vos para vossa inteligência, e para que assim se execute, com aquela prontidão, atividade, e zelo, que tanto tem caracterizado a conduta desse governo.

Escrita no Palácio do Rio de Janeiro em sete de dezembro de mil oitocentos e quatorze.

Príncipe 


Fonte: Arquivo Histórico Militar, DIV-2-01-06-03

Carta Régia ao marechal marquês de Campo Maior (Beresford) (7 de dezembro de 1814)

Honrado e marquês de Campo Maior, e marechal comandante em chefe dos meus reais exércitos e amigo. Eu, o Príncipe Regente, vos envio muito saudar como aquele que amo e prezo. Havendo determinado pela carta régia que em data de hoje dirijo aos governadores do reino e que por eles vos será comunicada que daí se enviem com toda a brevidade para este continente duas brigadas de caçadores na conformidade do plano que acompanha a citada carta régia, na qual vereis os ponderosos motivos que me determinaram a ordenar esta medida. 

Tenho a mais bem fundada confiança de que, na execução dela tomareis aquela ativa parte e cooperação que é própria do zelo, que haveis sumamente mostrado pela sorte da monarquia portuguesa e pela segurança e independência dos meus estados. 

E sendo certo que às vossas fadigas e sábias direções se deve a glória, reputação e respeito de que hoje goza o meu exército na Europa, não menos lisonjeiro será para vós que este bem se torne transcendente as tropas deste continente pela comunicação da sua boa disciplina, resultando por consequência que dos vossos trabalhos em Portugal se derivará também a grande vantagem de se conservar a integridade e segurança desta tão interessante parte dos domínios da minha coroa. O qual ? me ??? participar-vos para vossa inteligência e para que assim se cumpra na parte que vos toca, Escrita ??? no Palácio do Rio de Janeiro em 7 de dezembro de 1814.

Príncipe

Para o honrado o marquês de Campo Maior

Fonte: AHM-DIV-2-01-06-04


Ofício ao marquês Monteiro Mor (9 de dezembro de 1814)

Ilustríssimo e excelentíssimo senhor

Pela carta régia que sua alteza real o Príncipe Regente, meu senhor, dirige nesta ocasião a esse governo, verão os governadores do reino os motivos ponderosos que determinaram o mesmo augusto senhor a ordenar a medida a que ela se dirige, e não podendo sua alteza real por isso mesmo duvidar um momento da atividade e interesse com que esse governo se ocupará da execução destas reais ordens, procedendo imediatamente à organização do corpo de tropas que ora mando passar a este continente, na conformidade do plano que acompanha a citada carta régia de maneira que estejam em estado de poder embarcar logo que aí se achem reunidas e prontas as embarcações destinadas para o seu transporte. É sua alteza real servido mandar declarar a esse governo que considerando o mesmo senhor as circunstâncias que concorrem na pessoa do marechal de campo Carlos Frederico Lecor, o tem destinado para comandante deste corpo, o qual por conseguinte deve ser formado de acordo com este oficial, para o que cumpre que neste sentido expressa o governo as ordens necessárias ao marechal marquês de Campo Maior, a que sua alteza real também escreve nesta ocasião a carta régia junta, que os governadores lhe transmitirão aos mesmo tempo que lhe dirigem as ordens de que se trata.

Àquele oficial pois destinado a tomar o comando desta divisão, pareceu a sua alteza real que com justo motivo deveria pertencer a escolha dos oficiais que ela deve conter, não duvidando o mesmo augusto senhor de que ele procederá neste assunto com aquela honra e imparcialidade que é própria do seu caráter, e como tal determina sua alteza real que os governadores do reino assim lho intimem, e o participem ao marquês de Campo Maior, que certamente não deixará de reconhecer quanto é justo, e conforme à boa ordem do serviço começar em tal organização por dar um semelhante testemunho de confiança ao chefe do corpo.

Como esta medida abrange um objeto em que interessa essencialmente a causa da nação em geral, e para o qual por isso mesmo é de presumir que se manifeste o assentimento público, ordena sua alteza real que os governadores do reino principiem por fazê-la conhecer não somente ao Exército, mas a todos em geral, evitando por este modo qualquer mal entendida interpretação que se pretenda dar a tão importante deliberação, a respeito da qual será de modo algum conveniente que esse governo entre em ulterior explicação com qualquer membro do corpo diplomático, porquanto nesta parte se reserva sua alteza real fazer à corte de Madrid, e de Londres, aquelas comunicações que parecerem próprias e análogas às suas atuais relações políticas; e agora mesmo manda escrever ao seu enviado D. José Luís de Sousa Botelho, a fim de fazer uma abertura amigável a este respeito, apontando (se a Espanha quiser mandar tropas) o modo possível de cooperarem utilmente as forças das duas potências contra os insurgentes das províncias do Rio da Prata. O que sua excelência fará presente nesse governo para sua inteligência e devida execução.

Deus guarde a vossa excelência, Palácio do Rio de Janeiro em 9 de dezembro de 1814.

Marquês de Aguiar

Sr. Marquês Monteiro Mor

Fonte: AHM-DIV-2-01-06-02

Notas finais do Plano de organização da Divisão de Voluntários Reais (7 de dezembro de 1814)

[Notas finais do Plano]

Para a organização destas brigadas devem preferir os oficiais, oficiais inferiores e soldados dos corpos de caçadores, que para isto se oferecerem, e que forem robustos e bem morigerados, sendo indispensável em todo o caso que daqueles corpos de caçadores se extraiam tantos indivíduos quantos sejam necessários para organizar 12 companhias, na conformidade deste plano. 

Quando, porém, se não apresentem, contra toda a expectação, soldados voluntários para a organização deste corpo, permite sua alteza real que a sua força se preencha com soldados que tiverem tido uma deserção simples, de que já fossem perdoados por alguma ocorrência; ainda aqueles que tiverem sido sentenciados, ou estiverem no caso de o ser, por aquele delito.

E quando ainda não seja  // suficiente este arbítrio se fará a nomeação dos oficiais, oficiais inferiores e soldados que forem precisos, tirando-se por destacamento de cada um dos corpos do Exército, por uma escolha acomodada às leis que o regulam, verificando-se assim a composição desta divisão com a força ordenada.

O general que deve comandar esta divisão, por isso mesmo que é responsável pelo bom serviço dela, repugnará receber os indivíduos que lhe forem mandados pelos comandantes dos corpos, se lhes notar reconhecida inaptidão e, em tal caso, o representará ao marechal comandante em chefe do Exército, a fim de que este dê a tal respeito a necessária providência.

Este corpo de caçadores assim organizado receberá o seu competente armamento, e terá o uniforme dos batalhões de caçadores de Portugal n.º 3, 4, 6 e 11.

Para a organização da cavalaria se praticará o mesmo que fica dito a respeito da infantaria, e os soldados trarão consigo os seus respetivos armamentos, tanto pertencentes ao homem como ao cavalo.

O corpo de artilharia sairá igualmente com o seu fardamento, e se lhe entregarão as bocas de fogo e mais petrechos constantes do mapa incluso. //

Esta divisão terá dois auditores de brigadas, dos quais um será intendente geral dos víveres, e outro dos transportes.

Tendo sua alteza real ordenado que esta divisão se considere sempre como pertencente ao Exército de Portugal, a onde deverá regressar, manda sua alteza real declarar que os indivíduos que a compõem serão no seu regresso incorporados de novo aos corpos a que pertenciam, admitidos ali nas patentes em que se acharem então. E quantos aos soldados, se a esse tempo não quiserem continuar a servir ou não puderem fazê-lo por falta de saúde, serão reformados com o soldo por inteiro, ficando isentos dos cargos públicos e do alistamento de milícias.

Por esta disposição fica entendido que a gente que compõem [sic] esta divisão deve ser dada nos mapas do Exército de Portugal como praças existentes fora dos corpos, e notada a oficialidade com aqueles postos em que ora entrarem no serviço da divisão, devendo ficar, portanto, no Exército de Portugal diminuído o número de soldados, oficiais inferiores e oficiais que corresponde aquele que forma a totalidade deste destacamento.

As promoções nesta divisão serão sempre feitas a favor dos indivíduos que nela têm praça, e no sistema de disciplina e regímen // económico deste corpo se seguirão estritamente as regulações e ordens gerais organizadas para o Exército de Portugal em tudo aquilo em que elas forem conciliáveis com o sistema e estabelecimentos existentes no país.

Sua alteza real permite que com esta divisão possam vir as lavadeiras que se julgarem necessárias para o arranjo e asseio da tropa.

Palácio do Rio de Janeiro em 7 de dezembro de 1814.

Marquês de Aguiar


segunda-feira, 11 de março de 2024

Diario de la Comision cerca de S. E. el Baron de la Laguna (Lucas J. Obes, 17-27 de fevereiro de 1823)

[Autor: Lucas José Obes (1782-1838), Conselheiro de Estado]

[Datas limite: 17 a 27 de fevereiro de 1823]


Febrero de 1823

Dia 17. [Colónia de Sacramento]

Por la noche desembarque en la colonia, y me avisté con los emigrados de Montevideo d. Jose Bejar, d. Geronimo Bianqui, d. Timoteo Ramos, y otros, de quienes supe el estado de la Campaña, y Exercito situado en Canelones.

Dia 18.

Expedí un charque a d. Nicolas Herrera, avisándole de mi arrivo, y objetos que me conducían desde [Rio de] Janeyro en Comision de S. M. Y.

Dia 19.

Visité al cabildo de la Colonia, y demás autoridades, à quienes informe del animo e intención resuelta en que se hallaba S. M., de sostener à sus fieles súbditos de esta Provincia con todas las fuerzas, y recursos del Ymperio, recomendándoles quanto convenia propagar estas ideas para consuelo y satisfacción de los hombres que por un concepto contrario vacilaban en sus opinions.

Dia 20.

No pareciendo contra todos mis cálculos el expreso, que conducia la respuesta de d. Nicolas Herrera a mi aviso del 18, me puse en viage acompañado del Mayor Guizos de ynfanteria, y el capitán de artillería [Joaquim] Felipe Lamprea, ambos europeos, con quienes emplee los mismos oficios que con las autoridades de la colonia, aprovechandome de mi curiosidad, y la de las gentes que me hospedaban en el transito p.ª establecer la opinión conveniente al mejor suceso de la guerra.

Dia 21. [Canelones]

Llegue al Quartel general, y entable mis gestiones empezando por uma entrevista con el Baron de la Laguna [Carlos Frederico Lecor], y el Sindico general don Tomas Garcia de Zuñiga, a quien impuse de los poderosos motivos q.e S. M. Y. havia tenido para mirar con disgusto la conducta del  Baron, y temer que su apatía conduce à su ultima anima los negocios de la provincia que se hallaba presente por lo que haciendo ver el diploma de mi comisión les intime seriamente la necesidad de marchar al enemigo y comenzar las hostilidades, ò declarar que esto no era posible, por que S. M. Y. entonces sabría disponer lo conveniente à la salud del Estado, y el decoro de las armas lastimado por una banda de anarquistas.

No es fácil de concebir la sensacion que hizo este discurso, adornado de reflexiones contra las diferentes validas que podían encerarlo. El Baron expuso q.e al salir de la Plaza solo tenia 200 y mas hombres del continente sin armas, caballos, ni municiones; luego V. E. no debiera salir de la Plaza (le repuse) por que S. M. Y. ordenó este movimiento, como lo dice la carta regia de 20 (?) de Agosto, p.ª estrechar al enemigo dentro de Montevideo, y después obligarlo por hambre a ceder este punto, cosas todas que requieren gente, armas, municiones, etc.ª. El Sindico salió al encuentro de esta observación, diciendo que el Brigadier [Manuel] Marques [de Sousa] se havia iludido creyendo y haciendo creer que tenia ochocientos hombres, y toda posibilidad para romper con el enemigo, hecho que después ha confirmado don Nicolas Herrera, y no desmintió el mismo Sñr. Marquez [Manuel Marques de Sousa]: en conclusión, yo hice presente al Baron, y al mismo Sindico quanto era para extrañar que S. M. Y. hubiese ignorado hasta el día las privaciones de su Exercito del Sud, pues de saberlas seguramente hubiera primero atendido a remedialas, que a embiar cartas Regias excitando las autoridades al cumplimiento imposible de un Reales Mandatos [sic]. Para prueba mostré los transportes detenidos en Maldonado, y no callé las ordenes expedidas últimamente // à las Provincias limítrofes: pero como mi objeto no era hacer de Académico, corté este inútil certamen volviendo à mis principios, que reduxe así: o tenemos, o no tenemos medios p.ª executar lo que S. M. ordena; si lo primero, (ilegível) ya, y la Plaza siente el rigor de un asedio; si no tenemos, dígase con franqueza, y yo me regreso à la corte con esta noticias; pero entiéndase que S. M. Y. aunque no quiere imposibles, desea vencer dificuldades, y para conseguirlo quando así conviene à la gloria del Ymperio, no sabe perdonar sacrificios.

Gastese quanto fuere preciso, pidare lo que falte, que yo me constituyo garante de las revoltas. El Baron disso que estaba à punto de marchar sobre la Plaza con dos mil hombres del continente y la Provincias, y en efecto a las diez de la noche estaban desalojados los quarteles del Canelon con no pequeño placer de quantos se interesan en el mejor servicio de S. M. Y. y el triunfo de sus armas.

Dia 22. [Las Piedras/Canelones]

Me dirigí al Quartel General establecido en las Piedras (cinco leguas del Canelon) y haviendo hecho conocer al Brigadier Marquez la naturaleza de mi comisión, los deseos del Ministerio, y la necesidad urgente de acabar con el enemigo antes que algún suceso inesperado viniese à destruir los trabajos del Exercito, y los planes del Gobierno, convenimos en q.e pasados tres días comenzarían las hostilidades, (…) se tomaría una resolución decisiva conforme à las ordenes de S. M. Y., y aunque este ofrecimiento viniese envuelto en las mismas disculpas que ya expuse, sobre la conducta del Baron, y de cierta acrimonia que fuè preciso calmar [ilegível] por bien perdido el tiempo pasado, à tal que se aprovechase el futuro, volví a Canelones para activar otras operaciones no menos importantes que las del Exercito, aunque de un orden enteramente diverso. Un plan de policía rural para contener à los aspirantes de la Campaña, varios decretos en beneficio del Comercio, un periódico, etc.ª etc.ª eran los objetos que me llamaban à este punto.

Dia 23. [Canelones]

Lo pase en Canelones.

Dia 24.

Volví al Quartel General, observé su situación, y pareciendome oportuno repetir mis gestiones con el Sindico le insté para de su parte instase por un movimiento sobre los puestos casi abandonados del enemigo, no solo para probar la disposición del Exercito Ymperial, y quitar à la Plaza los ganados del vecindario inmediato que pasaría de 3000 cabezas dino para impedir que se armase la milicia del contra-muro, obligada por los anarquistas à desmentir su decision por el orden y la paz del territorio. El Sindico me aseguró que se proyectava un movimiento, y yo habiendo [ilegível] al Baron las providencias del numero 1, regrcie [sic] con la orden para ponelas en planta.

Dia 25.

Celebre una reunion de los señores oidor Decano d. Nicolas Herrera, Yntendente Antonio Gerardo Curado, oidor d. Fran.co Xavier Garcia de Zuñiga, y el coronel graduado Jose Pedro d’Oliveira, y haviendoles expuesto mis ideas relativas al movimiento que disse antes, y en general discutido las que cada uno se ha formado en orden al plan de campaña, resolvimos que el Sñr Garcia pasase al campamento, y tuviese una explicacion franca con el Sindico su hermano para que este hiciera presente al Baron de la Laguna quanto se arriesgaba en demorar un momento las hostilidades quando de ellas solamente y no solo de la política dependía la salud del Estado.

Dia 26.

Regresó Garcia com noticias positivas del movimento que devía executarse á las doce de la noche, circunstancia por la que suspendí los ofícios num.os 2.º e 3.º, que tendrian aviso en el momento, que parezca preciso para los fines de mi contento.

Dia 27.

Corren noticias de haverse movido el Exercito à las dos de la mañana, pero los detalles son tan confusos e inciertos que no me atrevo à comunicarlos sin la confirmación que se espera por instantes.

Esta acaba de llegar ahora que son las siete de la noche, y el movimiento se hizo llamando la atención el grueso del Exercito Ymperial al del enemigo en frente de su posición, mientras una división de 600 hombres al mando del coronel d. Frutos Rivera entró por un flanco dentro de la línea, y tomó sobre mil y seiscientas cabezas de ganado, tornando unos y otros à sua primeras posiciones después de algún fuego en que hubo siete heridos de la Division del Brigadier Barreto, y un oficial pririonero de las guerillas de los anarquistas.

De la Plaza escriben que d. Alvaro da Costa ha ordenado al consulado despida los transportes que para el retorno de la Division se aprestaron en B.os Ayr.es y Montevideo, y que allí corren voces de estar à la vista de Maldonado la esquadra ymperial.

Canelon, febr.º 21 de 1823

L. Obes


Fonte

Arquivo Histórico do Itamaraty, BR DFMRE RIO-AHI-SNEIB-FIM-ROPFJ-Prov-Cis-Info_M242-L04-P04_1823-02