De forma a preparar a chegada dos Divisão de Voluntários Reais (DVR) ao sul, assim como para estabelecer desde logo pontos de apoio face a qualquer oposição oriental na área da fronteira do rio Jaguarão e Chui, foi considerado fundamental pelo governo do Rio de Janeiro, em acordo com os objetivos da campanha, mandar as forças da capitania do Rio Grande do Sul ocupar a vila de Melo e a fortaleza de Santa Teresa.
Enquanto que Santa Teresa, uma fortaleza originalmente construída pelos portugueses em 1762 (e perdida para os espanhóis no ano seguinte), dominava a estrada real para Montevideu e Colónia, numa zona estreita de terra próxima a Castillos entre a Laguna Negra e o mar, Melo dominava uma estrada secundária que passava pelo interior, a ocidente da Cochilha Grande, a principal cadeia montanhosa da Banda Oriental, e que levava a Minas e depois também à estrada principal, em Pan de Azúcar.
A posse de ambos os pontos era essencial agora em 1816, como em campanhas anteriores (Santa Teresa havia sido ocupada na campanha de 1811/1812, mas logo depois abandonada), não só para garantir a segurança das rota inevitáveis de penetração portuguesa (que não estavam ainda plenamente estabelecidas), como para criar pressão sobre as divisões orientais na zona (Fernando Otorgués no interior, próximo a Melo; e Frutoso Rivera na área costeira de Maldonado, um dos dois portos de águas fundas da província), negando assim também ao inimigo o conhecimento das verdadeiras intenções portuguesas, o número e movimento das suas tropas.
Assim, enquanto a DVR parte do Rio de Janeiro, o Secretário de Estado dos Negócios da Guerra, Fernando José de Portugal e Castro, 1.º marquês de Aguiar [na imagem], no Rio, manda instruções, a 6 de Junho, ao capitão general do Rio Grande, então de S. Pedro, Luís Teles da Silva Caminha e Meneses, marquês de Alegrete para que, entre outra medidas, mande ocupar Melo e Santa Teresa.
A 12 de Julho, o marquês de Alegrete [na imagem à direita] transmite essas mesmas ordens ao tenente general Manuel Marques de Sousa, comandante das forças da capitania na fronteira do rio Jaguarão, logo a sul da Vila do Rio Grande e cuja área de atuação dizia respeito a toda a área oriental da fronteira portuguesa com a banda oriental, estipulando inicialmente que a ocupação dos dois pontos devia ser simultânea no dia 20 de Agosto. Em novas ordens a 17 de Julho, decerto devido a questões diversas na reunião das forças nos dois pontos de partida, o marquês do Alegrete indica que os dois objetivos devem ser tomados antes do dia 20, ainda que em dias diferentes.
Para a ocupação de Melo, que trataremos noutro artigo, foi escolhido o coronel Félix José de Matos, comandante do Batalhão de Infantaria e Artilharia do Rio Grande, assim como um pequeno destacamento de infantaria da DVR, a grande maioria da cavalaria da mesma divisão, assim como mais cavalaria de linha, de Milícias e Guerrilhas.
Para Santa Teresa, cujo objetivo tinha um maior significado simbólico, pelo facto de ser o forte originariamente uma construção portuguesa, o tenente general escolheu o seu filho, o sargento mor Manuel Marques de Sousa, da Legião de Cavalaria Ligeira do Rio Grande, também eles Voluntários Reais, para comandar uma força constituída por cavalaria da Legião riograndense e da Legião de S. Paulo. A escolha deste oficial foi sugerida pelo marquês de Alegrete logo nas ordens originais de 12 de Julho, destinada decerto a honrar o pai e o bom serviço do filho.
A ambos os comandantes foi entregue o estandarte nacional para que fosse formalmente hasteado nos dois locais, com toda a pompa. Este era o início da invasão portuguesa.
Enquanto que Félix José de Matos entra em Melo pela manhã de 13 de Agosto, Manuel Marques de Sousa conquista o forte de Santa Teresa pelas 7 horas da manhã do dia 16, enviando a parte oficial ao seu pai e comandante, fazendo o relatório que transcrevo em seguida, valendo por si na descrição do que aconteceu nesse dia.
A vanguarda da DVR, sob o comando do marechal de campo Sebastião Pinto de Araújo Correia, prenunciando os 4000 portugueses expedicionários, chega depois ao forte duas semanas depois, a 1 de Setembro, passando as forças que ocuparam o forte a fazer parte dessa mesma vanguarda até Montevideu cumprindo as ordens do Capitão General.
Ofício que escreveu o Sargento Mor Manuel Marques de Souza ao seu pai e comandante da fronteira do Jaguarão e Taim, tenente general Manuel Marques de Souza, sobre a tomada do forte de Santa Teresa ao início da manhã do dia 16 de Agosto de 1816.
Enquanto que Santa Teresa, uma fortaleza originalmente construída pelos portugueses em 1762 (e perdida para os espanhóis no ano seguinte), dominava a estrada real para Montevideu e Colónia, numa zona estreita de terra próxima a Castillos entre a Laguna Negra e o mar, Melo dominava uma estrada secundária que passava pelo interior, a ocidente da Cochilha Grande, a principal cadeia montanhosa da Banda Oriental, e que levava a Minas e depois também à estrada principal, em Pan de Azúcar.
A posse de ambos os pontos era essencial agora em 1816, como em campanhas anteriores (Santa Teresa havia sido ocupada na campanha de 1811/1812, mas logo depois abandonada), não só para garantir a segurança das rota inevitáveis de penetração portuguesa (que não estavam ainda plenamente estabelecidas), como para criar pressão sobre as divisões orientais na zona (Fernando Otorgués no interior, próximo a Melo; e Frutoso Rivera na área costeira de Maldonado, um dos dois portos de águas fundas da província), negando assim também ao inimigo o conhecimento das verdadeiras intenções portuguesas, o número e movimento das suas tropas.
Assim, enquanto a DVR parte do Rio de Janeiro, o Secretário de Estado dos Negócios da Guerra, Fernando José de Portugal e Castro, 1.º marquês de Aguiar [na imagem], no Rio, manda instruções, a 6 de Junho, ao capitão general do Rio Grande, então de S. Pedro, Luís Teles da Silva Caminha e Meneses, marquês de Alegrete para que, entre outra medidas, mande ocupar Melo e Santa Teresa.
A 12 de Julho, o marquês de Alegrete [na imagem à direita] transmite essas mesmas ordens ao tenente general Manuel Marques de Sousa, comandante das forças da capitania na fronteira do rio Jaguarão, logo a sul da Vila do Rio Grande e cuja área de atuação dizia respeito a toda a área oriental da fronteira portuguesa com a banda oriental, estipulando inicialmente que a ocupação dos dois pontos devia ser simultânea no dia 20 de Agosto. Em novas ordens a 17 de Julho, decerto devido a questões diversas na reunião das forças nos dois pontos de partida, o marquês do Alegrete indica que os dois objetivos devem ser tomados antes do dia 20, ainda que em dias diferentes.
Para a ocupação de Melo, que trataremos noutro artigo, foi escolhido o coronel Félix José de Matos, comandante do Batalhão de Infantaria e Artilharia do Rio Grande, assim como um pequeno destacamento de infantaria da DVR, a grande maioria da cavalaria da mesma divisão, assim como mais cavalaria de linha, de Milícias e Guerrilhas.
Para Santa Teresa, cujo objetivo tinha um maior significado simbólico, pelo facto de ser o forte originariamente uma construção portuguesa, o tenente general escolheu o seu filho, o sargento mor Manuel Marques de Sousa, da Legião de Cavalaria Ligeira do Rio Grande, também eles Voluntários Reais, para comandar uma força constituída por cavalaria da Legião riograndense e da Legião de S. Paulo. A escolha deste oficial foi sugerida pelo marquês de Alegrete logo nas ordens originais de 12 de Julho, destinada decerto a honrar o pai e o bom serviço do filho.
A ambos os comandantes foi entregue o estandarte nacional para que fosse formalmente hasteado nos dois locais, com toda a pompa. Este era o início da invasão portuguesa.
Enquanto que Félix José de Matos entra em Melo pela manhã de 13 de Agosto, Manuel Marques de Sousa conquista o forte de Santa Teresa pelas 7 horas da manhã do dia 16, enviando a parte oficial ao seu pai e comandante, fazendo o relatório que transcrevo em seguida, valendo por si na descrição do que aconteceu nesse dia.
A vanguarda da DVR, sob o comando do marechal de campo Sebastião Pinto de Araújo Correia, prenunciando os 4000 portugueses expedicionários, chega depois ao forte duas semanas depois, a 1 de Setembro, passando as forças que ocuparam o forte a fazer parte dessa mesma vanguarda até Montevideu cumprindo as ordens do Capitão General.
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Fortaleza de Santa Teresa, vista aérea (Wikicommons) |
Illmo. E Exmo. Senhor
Odepois de passados cincoenta e trez annos voltou a ser arvorada nesta Fortaleza, ontem pelas sete horas da manham a Bandeira Portugueza, e firmada com trez descargas de fogo de alegria, e os competentes vivas de Sua Magestade.
Para conseguir pois encontrar nella alguma parte da sua guarnição, foi me percizo marchar debaixo do mais rigorozo tempo, e fazer a ultima marcha de doze leguas entre tarde e noite, q' foi sertamente mais tempestuoza, e escura, a ponto de assunar-se a guarnição a ficar dentro do Forte, posto que com os Cavallos Sellados, apezar de já têr tido noticia da minha chegada a Geribatuba, e só me esperavaõ ontem por noite: porem ao manifestar se a Aurora, estava eu junto ao portaõ com quarenta homens, tendo ja deixado dois Esquadroens sercando o Arrayal, afim de que no Cazo que estivese fora do Forte a guarniçaõ se não escapava, e logo fiz forçar o portaõ e a hum brado que dei de Viva El Rey de Portugal renderaõ as Armas e entregaraõ-se prizioneiros o Cap.m de Dragoens da Liberdade e Coman.de do Forte D.m Cypriano Martins, o Ten.e Natario Molina, hum Cabo de Esquadra e oito Soldados, tendose escapado onze que na ocaziaõ do ataque se precipitaraõ das muralhas abaixo.
No Arrayal foi prezioneiro o Tenente Coronel Coman.de dos Civicos e da Companhia de Maldonado D.m Angelo Nunes, o qual andava alistando gente para o seu Corpo, e assim mais dezanove Milicianos deste Destricto.
Como os tivessem de levante já tinhão marchado hum Ten.e com 14 Soldados e hum Tambor, arreunir-se ao Destacamento da Cavalhada que tinhaõ em as mediaçoens de Castilhos com o fim de a porem em marcha.
Comtudo eu ainda assim me esperanço muito de que a Partida q' ontem mesmo fiz seguir de baixo do mando do Sarg.to Mor gr.do de Cav.a de Milicias Joaquim Gomes de Melo os vá alcançar, e lhes tome a cavalhada, que me consta ser de duzentos, sobre o pouco mais ou menos.
Os que se acháraõ se acharaõ dentro desta Fortaleza foraõ trinta e dois os quais fiz reiúnar, e foraõ intregues ao Sargento Mor Joze Pedro Galvaõ, para o serviço dos Esquadroens do seu mando.
Amanham pertendo remeter para o Rio Grande os prezioneiros feitos dentro desta Fortaleza, e juntam.e o Ten.e Cor.el Angelo Nunes (filho de Portuguezes e acerrimo Portenho) e hoje mando para suas Cazas os Milicianos, que foraõ prezioneiros no Arrayal.
Finalm.e Ex.mo Senhor já ninguem pode negar a V Ex.a de terem cido tropas do Comando de V. Ex.a as primeiras q' nesta Campanha trouceraõ a esta Provincia a Bandeira Portugueza, nem a mim, e aos meus Camaradas a de termos cido os que a Arvoramos nesta Fortaleza.
D.e g.e a V. Ex.a por m. ann.
Fortaleza de Santa Thereza, 17 de Agosto de 1816
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- Arquivo Histórico de Itamaraty, AHI-REE-00553
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