Quando publico Correspondência militar no teatro do Uruguai (13 a 23 Setembro de 1816), onde transcrevo 5 cartas escritas entre comandantes portugueses na área de Entre Rios (Quaraí e Ibicuí) e Missões, a norte, não senti necessidade de apresentar a transcrição desta que aqui faço. Faço-o por duas razões:
Primeiro, só tive acesso à primeira página do que talvez sejam mais uma ou duas. Se dá para compreender inclusive a data aproximada, dá para perceber o sentido, ao mesmo tempo, uma forte admoestação e um ultimatum a José de Abreu para fazer acontecer por parte do general em chefe.
Segundo, o assunto desta carta torna-se obsoleto em cerca de três dias, quando Abreu bate Sotelo no Passo de Yapeyú, e ainda por acontecer daí por uma semana a batalha de S. Borja, onde a lenda de Abreu se cimenta. Joaquim Xavier Curado é forte nas palavras e impõe-se a Abreu naquilo que coloquialmente poderemos inclusive nomear como 'piçada', ou 'mijada'.
Apesar de achar que não coube na postagem das cinco cartas, é de interesse divulgar esta sexta carta noutra postagem, mas fazendo a ligação.
Fora de contexto e sem as outras cartas, um leitor não teria José de Abreu senão como um mau comandante, quando de facto vai ascender à fama e heroísmo nos dois meses seguintes, em Arapey, derrotando José Artigas ele mesmo, e fechando a batalha de Catalán (no dia a seguir) com uma carga de cavalaria na ala direita.
[463-A] [Data desconhecida (c. 18/19.9.1816), possivelmente em Marcha, TenGen. Joaquim Xavier Curado a TenCor. José de Abreu]
Sr. Tenente Coronel Jozé de Abreu
Tive muita satisfação quando me participou o Brigadeiro Tomaz da Costa de ter tomado o expediente de nomear a V. S.ª para Comandante da Partida que devia atacar e destruir os Indios que de mistura com os Insurgentes se propunhão a invadir Missoens certificando-me em Oficio de 14 que era muito natural que V. S.ª os encontra-se no dia 13: e consultando a idea que sempre formei do seu zelo, e actividade no Serviço, facilmente me persuadi que o projecto de atacar prontamente se teria executado.
Em Oficio de 15 me participou o mesmo Brigadeiro que V. S.ª pedindo-lhe maior numero de Cavalaria proguntava se devia separar as forças para atacar em dous pontos, ou o que devia fazer.
Esta duvida, e esta progunta alem de serem ociozas fazem patentes não só que a actividade de V. S.ª mancou na melhor occazião, como tambem que os Enemigos não tinhão sido atacados no dia em que se esperava: porque sendo a Comissão de V. S.ª atacar o Enemigos pouco emportava que fossem destruidos em massa ou em detalhe. Neste instante recebo o Oficio do Brigadeiro Francisco das Chagas com data de 15 exegindo, e clamando pelo socorro que me deprecou anteriormente: signal evidente de que V. S.ª ainda não deu um só passo para adiantar a deligencia de que se acha encarregado.
Sobre este asumpto já escrevi de oficio ao Brigadeiro Tomaz da Costa extranhando o vagar e frouxidão que se observava nos movimentos de V. S.ª na data de 17 que me foi remetido por Copia.
Este procedimento não só tardio, como perigozo pelas funestas consequencias que podem rezultar deixão muito em duvida o merecimento de V., S.ª adquirido no decurso de muitos annos, e para que não seja destruido deve V. S.ª remediar a falta que tem cometido atacando e destruindo os Enimigos que invadirão Missoens estabelecendo o socego e tranquilidade publica àquela Provincia. Deixo de lembrar a V. S.ª a responsabilidade em que V. S.ª se acha na prezença do Illmo. E Ex.mo Sr. Marquez Capitão General desta Capitania aquem já dei parte de que V. S.ª na frente de um Corpo de 700 homens composto de Cavalaria, Infantaria e Artilharia foi in- [...] [capaz?]
[infelizmente, só tive acesso à primeira página]
Fonte
Arquivo Público do Rio Grande do Sul: Correspondências de José de Abreu, 1810-1825.
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Biografias
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