domingo, 17 de setembro de 2017

Tenente Luiz Faiada, um oficial de Lanceiros Guaranis


O Sentinela, por Breresa

Luís Faiada foi um oficial guarani ao serviço de Portugal, tenente em 1816, aquando do início da guerra contra Artigas. Parte das companhias de Lanceiros 'naturaes' de cavalaria miliciana das missões orientais, o tenente Faiada participa decerto na defesa de S. Borja contra o sítio e na invasão das Missões a ocidente do rio Uruguai. Para lá das menções sobre as quais me debruço em seguida, duas apenas, estas memórias ajudam a compreender a perspetiva de um indígena guarani e a sua ética militar, mas no contexto de uma guerra moderna.


Remexendo vasta documentação, é rara a vez em que um militar guarani  é indicado por nome nos relatórios oficiais por mérito e feitos em campanha. 
Ao esquadrão de Lanceiros Guaranis destacados no comando de José de Abreu, por exemplo, nunca é atribuído um comando a um guarani ou este não é mencionado nunca; só se sabe que era o capitão Chico.


Alguns oficiais das Milícias das Missões são mencionados porém por terem desertado à causa federal e republicana, comandada ali por Andrés Artigas, "Andresito" ou "Artiguinhas", mas apenas encontrei uma menção por mérito e ainda assim numa fase já recrudescente da campanha, com Artigas fraco e na defensiva. 
Ruínas da igreja de S. Miguel, nas Missões orientais (fonte: Wikicommons)

Tenente Luís Faiada
Felizmente, o tenente Domingos legou uma relação dos eventos da Campanha Além do Uruguai, realizada entre Janeiro e Março de 1817, em que os portugueses invadem a província de Corrientes. A relação nomeia este oficial, tenente Luís Faiada, guarani, numa nota final da sua relação, relativamente a um combate decorrido no início da campanha, a 19 de janeiro de 1817, no passo da Cruz, próximo a Yapeyú:
N. B. No encontro da passagem de Luís Carvalho com o Capitão Vicente [Tiraparé] de Naturais este saiu baleado escapando de morrer por negar fogo a pistola do Tenente Luís Faiada dos nossos Guaranis que este o seguiu pelo meio da rusma dos garruchos a fim só de matar o dito Vicente, porém tendo a infelicidade da pistola lhe negar fogo por causa de um papel que tinha no fogão, dando volta ao seu cavalo meio rodou em um cupí e como estava muito longe da nossa gente e muito no centro da garruchada gritou logo o Vicente que o matassem com as lanças o que puseram em obra, porém o dito Faiada se pôs logo imediatamente a pé com a sua espada na mão e se defendeu das lanças até que chegou socorro da nossa gente, não deixando de ficar ferido de uma lançada na coxa a qual chegou a criar bicho(s) sem este dito tenente Faiada nunca querer dar-se por doente, e foi continuando sempre em todas as diligências que fez o tenente Luís Carvalho; nesta ação tomou-se um morteiro o qual traziam montado em um armão fincado em um cepo, o qual no primeiro tiro que fizeram saltou do dito armão pela boa segurança em que vinha pois era um armão feito por eles.
Andres Artigas.
O tenente Domingos (tudo leva a crer ser Domingos José das Neves dos esquadrões de Voluntarios Reaes de Entre Rios, comandados pelo tenente coronel José de Abreu), fala não só dos feitos de coragem e heroísmo pessoal de Luís Faiada, mas que estes são motivados pessoalmente pela vingança sobre um capitão Vicente, desertor. 
Este Vicente é Vicente Tiraparé, conforme é nomeado nas listas de oficiais dos esquadrões guaranis organizados em 1811, como comandante da 1.ª companhia. Tiraparé e toda a sua companhia vêm a desertar e aderem à causa republicana de Artigas.


Oficial Guarani Recomendado
O brigadeiro Francisco Chagas dos Santos, no final da sua vigorosa campanha em Corrientes, saqueando e destruíndo, de forma a completar os sucessos na área de Santana do Livramento e Catalán [leia mais aqui], refere-se a Luís Faiada, não pelo nome, mas pela notícia de um miliciano guarani com um ferimento em todo semelhante. Parece-me claro que é Luís Faiada, a quem Chagas do Santos se refere, mas tendo em vista o que ele fez, possivelmente uma menção ao nome pudesse ser o mínimo...

Chagas do Santos, numa carta muito extensa ao comandante de Fronteira marechal de campo (hoje major general ou general de divisão) Joaquim Xavier Curado, refere-se muito brevemente a Faiada:

[...] do tenente Carvalho cuja retirada não deixou de ser assaz demorada, em razão de conduzir 3 carretas com alguma herva mate, 740 cavallos, 130 mulas, e 308 rezes de gado vacuum, havendo deixado recommendado em uma casa conhecida um miliciano guarani, que quebrou uma coxa.
O nome não é referido, mas a 'recomendação' em que foi deixado a recuperar numa casa 'conhecida', possivelmente impossibilitado de viajar, e a natureza do ferimento, que coincide em Domingos e em Chagas Santos, indica-nos que se trata do corajoso tenente de milícias.

Luís Faiada não aparece como oficial na organização inicial das oito companhias de milícias guaranis, seis anos antes em 1811, pelo que é de supor que tenha sido feito oficial posteriormente, mesmo até sabendo que toda a 1.ª companhia, pelo menos, desertou para a causa de Artigas, abrindo decerto vagas para promoção.

Guaranis anónimos
É bem vincada e visível a descriminação (como se diz hoje) pela qual um oficial português, guarani puro, não chega a ser nomeado pelo nome, ainda que seja nomeada a particularidade de o deixar a recuperar de ferimentos, recomendado, em Corrientes. Isto em carta ao comandante das Tropas do Rio Grande em operações.

As milícias guaranis não eram vistas à mesma luz que as restantes milícias brancas e caboclas da zona de Missões e Entre Rios, apesar de de estarem tão comprometidas militar e politicamente com a autoridade real portuguesa e com a segurança da sua terra.
Em 1811, havia em Missões oito companhias de milícias guaranis, 'naturaes', e três companhias de 'brasileiros' residentes em Missões (a primeira delas comandada por um dos heróis de 1801, que conquistaram Missões, Gabriel Ribeiro de Almeida [memórias]).


Lanceiros Originais
As milícias no Exército do Brasil eram divididas por 'raça', desde o século XVII, e a sua posição na hierarquia militar era exatamente a mesma que a que detinham socialmente no mundo civil, mas exclusivamente o meio de promoção social mais eficaz para quem combatesse bem.

Ainda que socialmente na base do Exército do Brasil, os guaranis eram presença assídua na vanguarda das tropas do Rio Grande em 1816 e 1817, pelo seu conhecimento do terreno e adaptação às condições locais. José de Abreu usa-os sempre na sua vanguarda, assumindo funções que modernamente diríamos de reconhecimento. 
São eles o primeiro verdadeiro uso moderno de Lanceiros tanto em Portugal como no Brasil. Oficialmente, apenas em 1832, é que é levantado um regimento de Lanceiros, ainda hoje ativo (Lanceiros 2); quanto no Brasil, são então primeiros inovadores, os guaranis da províncias das Missões orientais, oficialmente em 1811.

A forma tradicional guarani de fazer a guerra mantinha-se, mas no serviço do rei português. Não por acaso, o teatro de operações de Missões foi o mais sanguinolento e feroz, tanto a nível militar como civil, devido à enorme politização das sete Missões Orientais, portuguesas apenas desde 1801.
Quando Andres Artigas monta cerco a S. Borja, a sua primeira proposta de rendição da vila pelo portugueses, a 21 de setembro de 1816, é clara em que todas as Missões, orientais e ocidentais devem ser únicas sob a égide da Liga de Povos Livres, de Artigas.

Reivindicação
Fica então contada, no que se pôde, a história do tenente Luís Faiada, em dois breve traços do tempo. Não descobri mais nada sobre ele, nomeadamente se retornou a Missões orientais e o que fez na vida, inclusive se pereceu eventualmente devido aos seus ferimentos. 

Se o espírito da época diminuía os guaranis, nós agora não podemos senão evidenciar feitos militares, sejam eles de quem for. Hoje em dia, este tenente receberia uma condecoração de coragem, por arrojo face ao inimigo com desprezo da sua própria vida; é justo então que o mérito seja pois honrado.

Imagens
- Ruínas da igreja de S. Miguel, nas Missões orientais.
- "O Sentinela", de Beresa, 1991.

Fontes
- ARQUIVO HISTÓRICO DE ITAMARATY, Ministério das Relações Exteriores: AHI-REE-00944: “Rio da Prata: Documentos sem importância – 16 folhas, 1811-1818”.
- LARA, Diogo Arouche de Moraes, “Memória da Campanha de 1816”, in: Revista Trimensal de História e Geografia, n.º 26, Rio de Janeiro, Instituto Histórico e Geographico Brasileiro, Julho de 1845, pp. 125-328.
- PORTO, Aurélio, História das Missões Orientais do Uruguai - Segunda Parte (2.º Edição), Porto Alegre, Livraria Selbach, 1954. [Ler]

Biografia: brigadeiro Francisco de Chagas Santos
Biografia: marechal de campo Joaquim Xavier Curado

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Saldanha, o alferes de veteranos e o combate de Toledo (5 de Maio de 1817)


A história seguinte refere-se a um episódio descrito na História do Marechal Saldanha, de D. António da Costa, publicada em 1879, em que o autor descreve um encontro em 1837 entre o alferes de veteranos José Pires e o marechal, então, marquês de Saldanha, D. João Carlos, levando à lembrança de eventos em 1817 onde as suas vidas se cruzaram de forma dramática, de uma maneira que apenas o combate permite. 

Esta narração, em conjunto com as fontes primárias, permite-nos um pequeno vislumbre sobre o que aconteceu a 5 de Maio, quando a retaguarda portuguesa foi atacada, durante a segunda Sortida Portuguesa, que decorreu entre 3 a 6 de Maio de 1817. Nessa altura. José Pires era 2.º sargento da cavalaria, e Saldanha era Coronel comandante do 1.º regimento de infantaria, ambos da Divisão de Voluntários Reais.

Mais especificamente, o combate de Toledo, onde estas duas vidas se entrelaçaram para a eternidade, ocorreu a 5 de Maio, quando as forças portuguesas iniciavam o retorno já a Montevideu, após forragearem na área, com um comboio de trigo.
A retaguarda deste comboio foi atacada pela vanguarda oriental, comandanda muito provavelmente por Juan Lavalleja, subordinado a Frutuoso Rivera. 
A retaguarda portuguesa era constituída por tropas do regimento de Saldanha, o 1.º de Infantaria, e estava comandando o sargento mor João Joaquim Pereira do Lago. Eram por volta de 150 homens de infantaria e cavalaria.

Em reação ao ataque oriental, Silveira Pinto envia um reforço das duas armas à retaguarda atacada. Sendo o seu regimento sobre ataque, Saldanha, estando no grosso, com o brigadeiro Bernardo da Silveira Pinto (o comandante de toda a sortida), acaba por ir  também apoiar os seus homens, aos primeiros sinais.


Toledo, Uruguai, na saída oeste, próximo de onde ocorreu o ataque oriental sobre a retaguarda portuguesa.


A história relatada por D. António da Costa é, porém, mais necessária nesta altura, começando em 1837 e retrocedendo depois 20 anos, às coxilhas do Uruguai.

Certa manhã de 1837, por occasião da revolta denominada dos Marechaes, almoçava em Penamacor o marechal Saldanha com os officiaes do seu estado maior, quando lhe anunciaram que um alferes de veteranos lhe pedia licença para o comprimentar.
- Entre o alferes de veteranos.
O alferes entrou. Vinha com o braço direito amputado.
- O senhor marechal já não me conhece?
O marechal fitou n'elle os olhos por momentos, crescendo-lhe successivamente a curiosidade.
- Não me lembro.
Por sua vez cravou n'elle os olhos o alferes.
- Pois não se lembra o sr. Marechal, d'aquella carga em Montevideu, em que lhe mataram o cavallo, e em que um dos seus sargentos ficou sem um braço? Sou eu aquelle sargento.
Os bravos e as palmas do estado maior do marechal não deixaram continuar a narativa do veterano. Que sucedêra? N'essa propria manhã, durante a marcha de Castello Branco para Penamacor, viera Saldanha contando aos seus ajudantes aquella mesma carga e o facto do sargento mutilado. Imagine-se o que ali não foi entre aquelles rapazes, à notável coincidencia. O alferes repetiu então nos pontos capitaes a narrativa de Saldanha, mal sabendo que publicava a segunda edição. 

Fôra o caso: marchavam um dia por aquellas planicies sem termo. A alguma distancia um piquete cobria a retaguarda. Saldanha olha para trás e vê relampejarem as espadas que o piquete desembainhára. Suspende-se. Espadas que relampejam, signal é do inimigo. Volta para a retaguarda apressado e chega até o piquete. É a cavallaria de Artigas que lhes vem na pista. Saldanha não espera por mais nada. Na fórma do costume lança logo o cavallo a galope, a toda a brida. Segue-o a sua cavallaria. Sendo o primeiro que chegou, arremessa-se contra a cavallaria contraria. Cae-lhe morto o finissimo cavallo que montava. Está a pé, elle só, cercado de cavallaria inimiga; a investida é furiosa, rodeiam-no, arremettem, mas Saldanha defende-se de uns, ataca outros, fere outros também, a sua valentia, coroada com a felicidade da sua estrella, de todos zomba, parece invulnerável, quasi prodigio parece. Chegam os mais velozes dos seus, Vêem-no a pé, luctando contra todos, um sargento se apeia logo, offerece-lhe o cavallo, monta Saldanha repentinamente, uma espadeirada arremettida contra ele, decepa o braço do sargento; a carga chega ao auge, vacillam os orientaes ao impeto incessante dos portuguezes, retrocedem, debandam, pertence o campo aos nossos, e, com tal exemplo de commandante, que militar dos seus não venceria também? Era aquelle sargento mutilado, que ao almoço do marechal em Penamacor, vinha saudar o guerreiro de Montevideu. 

António da Costa, História do Marechal Saldanha (tomo I), Lisboa, Imprensa Nacional, 1879. p.93-94

* * *


LEIA:
A Segunda Sortida Portuguesa e a Ação de Toledo (3 a 6 de Maio de 1817)

* * *

O Encontro de Irmãos de Armas e a Realidade
O alferes de veteranos referido no texto parece ser o então 2.º sargento José Pires, conforme se pode ver numa carta de Carlos Frederico Lecor ao marquês de Aguiar (transcrita no artigo cuja ligação indico atrás), com base nas informações do brigadeiro Silveira Pinto, comandante da sortida.

"O brigadeiro Silveira recomenda o 2.° Sargento José Pires do mesmo Regimento de Cavalaria, o qual portando-se muito valerosamente no dia 5 foi gravemente ferido, e sofreu a amputação de uma mão, e tendo a bem disto muita boa conduta, o recomendo a Sua Majestade para ser promovido a Alferes, podendo passar à Infantaria, onde pode fazer o serviço.   
O coronel do 1.° Regimento d'Infantaria João Carlos de Saldanha faz os maiores elogios ao brigadeiro Silveira, pois achando-se junto ao mesmo Brigadeiro, quando o esquadrão do capitão Abreu carregou o inimigo, correu à rectaguarda, envolveu-se com aquele esquadrão, e teve o seu cavalo morto."

Imagem (topo)
- S. Ex.ª Marquez de Saldanha, Marechal do Exercito (1835), in Biblioteca Nacional Digital [aqui]

Bibliografia
COSTA, António da, História do Marechal Saldanha (tomo I), Lisboa, Imprensa Nacional, 1879;

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Memórias: Aquela Montevideu, o que ali se fez! (duque de Saldanha)



"Quando, já ancião e no remanso do lar, lhe fallava algum parente ou amigo nos seus feitos da guerra liberal de 1833, Saldanha escutava modesto as façanhas que lhe recordavam, sorria-se, esfregava as mãos, e ouvia-se-lhe murmurar, como simples echo do seu pensamento: «Mas aquella Montevideu! O que alli se fez!» E calava-se, tornava-se-lhe serio o rosto, e logo despertando do seu entresonho, como que tendo saído das planícies montevideanas onde o pensamento o transportára por momentos aos seus verdes anos, aos seus companheiros de armas jovens como elle e n'aquelle instante mortos já todos, levava as mãos aos cabellos e dizia então a valer, para os que o rodeavam, como se involuntariamente o não houvera já dito: “Aquella Montevideu!”

António da Costa, História do Marechal Saldanha (tomo I), Lisboa, Imprensa Nacional, 1879. página 89.

Imagem (ao topo)
- A Baía de Maldonado


~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~



“[...] diz o seu principal biógrafo [D. António da Costa], que esse período da sua vida militar deixou fundos sulcos na memória do futuro Marechal; na velhice, recordava com mais interesse os episódios de Montevidéu do qualquer outra campanha. Quando falava deles “toda a fisionomia se lhe iluminava...” contou depois Bulhão Pato."

Belisário Pimenta, O Marechal Saldanha: sua Vida Militar, suas Ideias e Métodos (separata da “Revista da Universidade de Coimbra”, vol. XVIII), Coimbra, s/ed, 1957.



LEIA

- Biografia (até 1816):
https://dvr18151823.blogspot.com/2018/02/1-brigada-joao-carlos-de-saldanha-de.html

- Saldanha, o alferes de veteranos e o combate de Toledo (5 de Maio de 1817):
https://dvr18151823.blogspot.com/2017/09/o-duque-de-saldanha-e-acao-de-toledo-5.html

terça-feira, 12 de setembro de 2017

La Entrada de las Tropas Portuguesas (Isidoro de María)



Era el 20 de enero del año 1817, cuando efectuaron las tropas portuguesas su entrada a la Plaza de Montevideo, evacuada por los orientales con el delegado Barreiro.
A su frente venía el general Lecor, Barón de la Laguna, bizarro militar, conducido bajo palio.

Una comision del Cabildo había ido a recibirlo en las afueras del Portón de San Pedro, presentándole las llaves de la ciudad en una gran bandeja de plata. En la portada de la ciudad le esperaba el clero con el palio, para conducirlo bajo de él, como era costumbre. El repique de las campanas de los templos anunciaron la entrada, que se efectuó por el referido Portón, doblando por la calle de San Fernando hasta salir a la Plaza.

Delante de Lecor venia bajo el palio el Mayor de Plaza, trayendo en sus manos la bandeja con las llaves de la ciudad. En pos del Barón de la Laguna, venían las corporaciones.

Seguíanle las tropas, de bizarro aspecto y bien uniformadas. Usaban grandes y pesados morriones. Los regimientos 1º y 2° de caballería traían pantalón azul, y casaca con vueltas amarillas el uno, y azul celeste el otro, trayendo pendiente del lado izquierdo una gran cartera de cuero negro. La montura era de silla; el armamenro: tercerola y sable corvo grande. Los jefes y oficiales usaban pistoleras en la silla. Los caballos todos eran rabones y reyunos. El correaje de los cuerpos de infantería, blanco, cruzado en ambos lados, y fusiles de chispa.

En el 2º regimiento de caballería venía de cadete el entonces joven Augusto Posolo [José Augusto Possolo (1802-1882)], de unos 14 años de edad, que después llegó a ser general de la república. Su cuerpo se detuvo en la marcha en la esquina de la Plaza, donde desviándose pidió un poco de agua a una criada, para aplacar la sed que traía. Episodio que presenciado por un niño criollo, entonces, se lo recordaba después de muchos años, a lo que contestaba que era exacto.

Las tropas de las tres armas formaron en el costado norte de la Plaza, y como era un día muy caluroso, se les hizo llevar barriles de agua de los aljibes inmediatos para que calmasen la sed que traían de la marcha, mientras duró la formación.

Entretanto, se celebraba un Te-Deum en la iglesia Matriz a que había asistido el general Lecor con todas las corporaciones, después del cual, se dirigió al Cabildo, desfilando las tropas por el frente, haciendo los honores de estilo al Jefe y retirándose a los cuarteles que se les designaron, enarbolando la bandera de las quinas de Portugal en la Ciudadela.

El general Lecor, con su Estado Mayor pasó al Fuerte a recibir los cumplimientos de estilo, y se acabó la función quedando el poder de Portugal en casa a título de Pacificador; y los patacones, las patacas, los vintenes y los reis, empezaron a ser la moneda circulante, de que aún tenemos los vintenes, aunque de cuño nacional, para memoria.

Fonte
Isidoro de Maria, Montevideo Antiguo – Tradiciones y Recuerdos, Volume I, Montevideu, 1957. pp- 124-125

Na internet: https://archive.org/details/deMariaI_MontevideoAntiguo_v1

Notas e comentários
- Carlos Frederico Lecor não era ainda barão da Laguna em 1817, título a que foi alçado apenas em 1819;
- A cavalaria da Divisão não estava ainda organizada em regimentos, mas em dois corpos de 6 companhias cada (ou 3 esquadrões). Só vão ser organizados em regimentos posteriormente.

* * *

Sobre o Autor: Isidoro de María

"Nació en Montevideo, el 2 de enero de 1815 hijo de Juan Maria De María, de origen italiano y de doña María Luisa Gómez, argentina. Sus estudios primeros los realizó en la Escuela Lancasteriaria, donde se destacó por su aprovechamiento y contracción al trabajo. Su cultura general la adquirió por sí mismo procurándose todos los elementos de información que el medio le podía ofrecer. En el año 1829 se inició como tipógrafo en la “Imprenta del Estado”. Este oficio lo vinculó a los hombres de letras de su época y sobre todo a las redacciones de los diarios. Muy joven era ya periodista. Por sus ideas políticas estuvo vinculado al general Rivera y por consiguiente fue uno de los principales redactores de “El Constitucional” (1838-1846). En esa misma época dirigió “El Censor” (1839), periódico político.
En 1849 el general Urquiza compró en Montevideo dos imprentas para Entre Ríos; la destinada a Gualeguaychú fue confiada a De María. El 5 de mayo de ese año aparecía “El Progreso de Entre Ríos” del cual fue fundador y director De María. En 1851 cambió su nombre por “El Federal entrerriano” y dejó de aparecer al año siguiente. En 1852 fue nombrado vicecónsul del Uruguay en Gualeguaychú y poco después cónsul en Entre Ríos.

De regreso al país todas sus actividades fueron encauzadas a las tareas pedagógicas, periodísticas y a la investigación histórica. En 1860 formó parte de la Comisión de Instrucción Primaria del departamento de Montevideo. En 1868 ingresó a la Cámara de Representantes. Llegó a ocupar en un período la vicepresidencia de este cuerpo. Fue autor de un proyecto sobre enseñanza obligatoria y gratuita y de los Cursos nocturnos para adultos. Durante seis años fue Inspector de las Escuelas de Montevideo. Desde su juventud se dedicó De María a los estudios históricos nacionales. En 1860 publicó la primera biografía de Artigas; en 1864 inició la publicación de su Compendio de la historia y desde entonces hasta su muerte, en las alternativas que le imponían otras obligaciones, publicó numerosas obras, de las cuales las más importantes son: Compendio de la historia de la República Oriental del Uruguay, (Montevideo, 1864-1902); Rasgos biográficos de hombres notables, (Montevideo, 1879-1886); Anales de la Defensa de Montevideo, (Montevideo, 1883-1887); Montevideo antiguo, (Montevideo, 1887-1895); Páginas históricas de la República Oriental del Uruguay, (Montevideo, 1892), y un variado conjunto de obras de carácter didáctico. En 1890 fue nombrado director del Archivo General Administrativo. Falleció en Montevideo, el 16 de agosto de 1906."

Fonte: http://www.enlacesuruguayos.com/Isidoro_De_Maria.htm

Mais em 
http://letras-uruguay.espaciolatino.com/de_maria/bio.htm


ARTIGOS RELACIONADOS
- Antecedentes à Tomada de Montevidéu: 15 a 19 de Janeiro de 1817
http://dvr18151823.blogspot.pt/2017/01/antecedentes-tomada-de-montevideu-15-19.html

- Carta do Conde de Viana acerca dos eventos navais entre os dias 18 e 20 de Janeiro de 1817
https://dvr18151823.blogspot.pt/2017/07/carta-do-conde-de-viana-acerca-dos.html

- Entrada em Montevidéu, 20 de Janeiro de 1817
http://dvr18151823.blogspot.pt/2017/01/entrada-em-montevideu-20-de-janeiro-de.html