terça-feira, 18 de junho de 2019

Diário Militar de Bento Correia de Câmara (14 de Junho a 25 de Julho de 1819)


Num documento no Arquivo Histórico do Itamarati, do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, sob o título de “Documentos de militares contra Artigas (cop.)", encontramos o diário militar do brigadeiro Bento Correia de Câmara
O manuscrito de 14 folhas refere-se às movimentações que o brigadeiro Câmara, então comandante da fronteira de Bagé, encetou entre 14 de junho e 25 de julho de 1819, face a um aumento de pressão por parte das forças orientais, sob o comando de José Artigas, e que culminou na Ação de Santana, a 29 de junho, onde uma força oriental foi derrotada junto a Santana do Livramento.

A segunda Invasão Oriental de Missões

Em 25 de Abril desse ano, cerca de um mês e meio antes, o comandante oriental de Missiones, Andrés Guaçurari y Artigas, também conhecido por Andresito ou Artiguinhas, iniciou uma segunda invasão das Missões Ocidentais, transpondo o rio Uruguai a norte de S. Nicolau, que resultou na ocupação deste primeiro povo, assim como os de S. Luís, S. Miguel, S. Lourenço, S. João e inclusive tão a leste quanto Santo Angelo, 100 km já dentro do território das Missões ocidentais.

A acompanhar esta invasão, e como em 1816, José Artigas fez pressionar a fronteira do rio Quaraí, ameaçando Santana e Alegrete, assim como Bagé. Os movimentos e objetivos de Artigas são aliás muito semelhantes aos de 1816.

Mal tem conhecimento, o Conde de Figueira, D. José Maria Vasconcelos e Sousa, capitão general do Rio Grande desde Outubro do ano anterior, substituindo o marquês de Alegrete, parte de Bagé em direção a Missões, fazendo a ligação às forças de José de Abreu, em Alegrete, a 18 de Maio, e às de Francisco de Chagas dos Santos (o governador das missões portuguesas), a 27 de Maio, no rio Camacuã.

Após encontrar S. Nicolau abandonada pelos orientais, o conde da Figueira procede a libertar os restantes povos ocupados, tendo despachado previamente José de Abreu a procurar uma parte do exército oriental que tinha cruzado o rio Piratini para sul. Este contingente, comandando pelo próprio Andresito, é derrotado na Ação de Itacorubi, a 6 de junho, pondo fim à invasão e levando à própria captura de Andrés Artigas a 24 desse mês, quando procurava transpor o Passo de S. Isidro, de volta a Missiones.

Bento Correia de Câmara, Bagé e Santana

É 300 quilómetros a sul que encontramos o teatro a que se refere este manuscrito, entre Bagé e Santana, na fronteira do rio Quaraí. Aliás, é o próprio documento que nos informa que só a 2 de Julho é que o brigadeiro Câmara tem a notícia do fim da invasão a norte.

O manuscrito tem um interesse próprio, permitindo-nos perceber as movimentações do exército da Capitania do Rio Grande nesta área, face à pressão que Artigas desejava complementasse a invasão de Missões a norte.

Posso apenas tentar perceber a razão pela qual o mesmo ficou no Arquivo Histórico do Itamaraty, entre outros diários militares relativos a outros períodos, mas a menção que faz a um desentendimento entre os brigadeiros Bento Correia de Câmara e Félix José de Matos pode ajudar a perceber. Este desentendimento tem o seu zénite a 31 de Junho, dois dias depois da vitória obtida na Ação de Santana.
Terá sido graças a esta disputa e eventuais repercussões de índole política, que temos hoje acesso ao manuscrito e à transcrição que aqui apresento.

O Manuscrito

Ainda que tenha uma importância reduzida face aos eventos que estavam ainda a acontecer 300 km a norte, este tipo de documentos, que se inserem no memorialismo militar, são fundamentais para perceber o funcionamento e dinâmica do exército do Brasil durante o conflito de 1816-1820.

Aqui apresento pois uma transcrição do manuscrito, com ortografia moderna, em complemento de uma outra versão, com a ortografia original, que publiquei no blogue "Corpus de Memorialismo Militar Luso-Brasileiro nos Finais do Antigo Regime" e que pode ser lido aqui.

Tanto quanto possível tentei identificar as pessoas referidas, mas tal não foi possível em todos os casos, nomeadamente os militares de postos subalternos.

A acompanhar esta transcrição, ponho à disposição um pedaço de um mapa da área, de 1868, mas que apesar de ter sido feito meio século depois ainda reflete a realidade do terreno em 1819, com a exceção de muitas terras que não existiam na altura.

* * *

[Transcrição]

Dia 14 de Junho de 1819, Recebi parte do Alferes comandante da Guarda de Guabijú, de se terem recolhido os bombeiros, e participarem que na serra de Lunarejo divisarão uma grosssa coluna inimiga que se encaminhava para Santana [do Livramento] para a nossa Fronteira com abreviadas marchas.
Neste mesmo dia convidei o Brigadeiro Félix [Félix José de Matos Pereira de Castro (1772-1823), comandante do Batalhão de Infantaria e Artilharia do Rio Grande] para com a sua divisão operarmos contra esta força assentando a reforçar a tropa do meu mando com 70 homens de seu comando.
Dirigi parte para proprio a Capela de Alegrete, participando ao Sargento Mor João António [possivelmente o sargento mor reformado João António da Silveira, do Regimento de Dragões]  desta força que se encaminhava para os limites daquela repartição.
Pus-me em marcha com as forças do meu Comando para o ponto proprio da fronteira ameaçada fazendo Pouso no Fazendeiro França.

Dia 15
Me acampei nas vertentes do Arroio Ponche Verde.
Recebi Offício do Brigadeiro Félix comunicando-me de não puder mandar o reforço que tinha tratado pelo motivo de lhe participarem os seus Bombeiros vindos do rincão das Avarias terem ali divisado uma força Inimiga.
Fiz reunir a guarnição da Guarda de Guabijú, e por consulta fiz marchar no mesmo dia a metade das forças do meu Comando em Número de [espaço em branco] com direção a Itaquatiá [arroio Itaquatiá, entre o rio Upamaroti e o arroio Ibicuí da Faxina], com destino de atacar alguas escoltas da força Inimiga, que se dividirão em grossas partidas, a saquear, e queimar as habitações dos moradores situados no rincão de Ibicuí, repartição do Coronel Abreu [José de Abreu (1770-1827)], dobrando os Bombeiros para Santana a fim de descobrir a posição e direção do Inimigo.

Dia 16
Não houve novidade

Dia 17
Apresentou-se o Tenente Anacleto Jacinto e o Alferes Francisco José Farinha com 23 praças do seu distrito.

Dia 18
Enviei notícias a Bagé ao Capitão Pedro Fagundes, indo pelo […] do Cabo de Esquadra de Dragões Cândido de Abreu por quem solicitei a remessa de armamentos precisos
Recebi carta do Brigadeiro Félix José participando-me ter tomado a resolução de unir-se a este ponto.
Apresentou-se um soldado guerrilha do Distrito de S. Sebastião.

Dia 19
Apresentou-se um guerrilha da repartição de Guabijú.
Reuniu-se o Brigadeiro Félix, com a Divisão do seu Comando.
Recebi carta do Sargento Mor Antonio  Adolpho [António Adolfo Charão, ou Adolph Schramm (1761-1835)] de ter o Inimigo passado a parte oriental de Santa Maria no Passo do Rosário a supor teriam saqueado as bagagens que por aquelas imediações mandou o Exmo. Senhor Conde [1.º Conde da Figueira, José Maria Rita de Castelo Branco Correia da Cunha Vasconcelos e Sousa (1788-1872), capitão general do Rio Grande].
A esta mesma […] nos juntamos em marcha para a direção de Itaquatiá com o destino de procurar o Inimigo onde quer que apareça.

Dia 20
Pouso na Fazenda do Furriel Inácio Rodrigues.

Dia 21
Pouso na Antiga Guarda de Santiago em cuja marcha cansou muita cavalhada de todos os Corpos.
Recebi notícia pelo espanhol Ignacio Guterres apresado pelo Inimigo de quem pode fugar; notifica ter ouvido aos referidos ter Artigas destinado 200 homens para saquearem Bagé por cujo motivo fiz seguir o Capitão João dos Santos Campello, um dos homens de cavalaria, a ocupar o ponto da Guarda de Guabijú; ponto próprio interessante para ser repelida aquela força na pretendida entrada e retirada daquele destino.
Pela consulta feita com o Brigadeiro Félix em a utilidade do Real Serviço assentamos em deixar o Parque […] oculto a fim de mais aceleradamente ocuparmos a importante posição de Santana em atenção a falta de transportes, e cavalgadura que já experimentámos.
Este Parque por melhor acordo foi conduzido pelo Capitão Santos, para o remeter a Bagé e dali ser concentrado; fizemos Pouso nas vertentes do Uparamoti.

Dia 22
Pouso em outra vertente do Uparamoti, nada ocorreu.

Dia 23
Recolheu-se o Bombeiro Jerónimo Rodrigues e traz a notícia de ter o Furriel Inácio Rodrigues descoberto o rasto de 30 a 40 Inimigos terem se entranhado para as partes do Ibicuí, ficando de emboscada aos mesmos no sítio do Serro das Palomas; e por consulta feita entre mim e o Brigadeiro Félix, Vaquianno, e oficiais práticos do terreno, assentámos mandar 50 homens na Partida mandada pelo Bento Gonçalves [Bento Gonçalves da Silva (1788-1847)] de Proteção ao Bombeiro Jerónimo Rodrigues para explorar afoito onde se acha o Inimigo na direção se supõe ocupam, vertentes de Taquarembó a Santana.
Mandei um Soldado guerrilha ao passo do Rosário no Arroio de Santa Maria, a certificar-me das notícias do saque que tenham feito o Inimigo por aquela parte ficando de voltar ao fim de 5 dias.

Dia 24
Não houve novidade.

Dia 25
Apresentaram-se os guerrilhas Manuel de Vargas e João Franco, mandados pelo alferes Barbosa a dar a notícia de que o furriel Inácio Rodrigues com 19 homens atacou 60 a 70 inimigos, mataram 3 e vários baleados, aprisionaram um com um braço quebrado de uma bala, retomaram os nossos ao inimigo 900, a 1000 animais vacuns cavalares, entre estes trezentos e tantos cavalos mansos, asim como tomarãam 2 armas, uma lança e uma pistola e que o inimigo prisioneiro confessava terem 300 homens acampados na Tapera de Felisberto Goulart nas pontas de Quaraí, assim como o Fructuoso [José Fructuoso Rivera (1784-1854)] se encaminhava com 400 a saquearem Bagé, por cujo motivo reuniu, digo motivo mandou se reunir a partida para atacarem as referidas forças.
Próximo ao Pouso se apresentaram 2 pretos espanhóis, fugidos de seu Ssenhor Maxuca de quem eram escravos.
Fizemos Pouso na Fazenda de Joaquim Pedro.

Dia 26
Recebemos aviso do capitão Bento Gonçalves de depor o prisioneiro que Artigas [José Artigas (1764-1850)] se acha em Santana com as suas forças próximo à mesma Partida por cuja razão seguimos a reunirmos à mesma partida com o desígnio de os atacar; fizemos Pouso na tapera do Ribeiro; ao anoitecer foram descobertos pelos nossos bombeiros sobre a nossa frente 7 a 8 bombeiros inimigos.

Dia 27
Não podendo seguir de dia mandámos bombeiros a partida do alferes Manuel Barbosa a saber notícias do inimigo.
Tem cansado até ao presente dia 96 cavalos.
Ao anoitecer segui com a tropa do meu comando a reunir-me com as partidas do capitão Bento Gonçalves e alferes Manuel Barbosa nas pontas do Ibicuí com o proposito de ir amanhecer atacando o inimigo, para cujo fim prestou o brigadeiro Félix José o reforço de 40 Praças, que, imediatamente as tornou a suplicar ficasem por não poder dispensá-las, com tudo vexado pela ordem que tinha do Exmo. Sr. Conde, cedeu, e marchei na mesma tarde para o Aroio Ibicuí [arroio Ibicuí da Faxina] dando a volta de três léguas, a fim do inimigo não reconhecer as forças do meu comando pelos seus bombeiros, que se achavam postados nas alturas da Serra de Santana, nessa noite me incorporei às duas partidas referidas, e ali soube dos oficiais comandantes das mesmas que era impraticável a mesma marcha por causa do grande peso da cavalhada magra, e cansada, que de necessidade se devia apartar da pouca que havia em melhor estado dar tempo no dia seguinte a carnear, e fazer fiambres, e remeter os presos a outra divisão.

Dia 28
Às doze da manhã tive parte pelos meus bombeiros que da parte dos nossos terrenos se divisava sua coluna de 200 Homens, que mandando-a reconhecer, soube ser o inesperado brigadeiro Félix José, que conferindo comigo, me fez ver o desejo que então teve de me acompanhar, ao qual anuí, e marchando naquela tarde fiz alto, às doze da noite no primeiro acampamento que o Inimigo ocupou.

Dia 29 [Ação de Santana]
Ao amanhecer, nada se pode divisar, pela grande cerração que durou até às dez horas, tendo com antecipação pedido-me o referido brigadeiro 20 homens da minhaa divisão, e parte dos meus bombeiros e vaquianos, que montariam a dez homens, e que permitisse deixar passar alám da minha vanguarda, o capitão das suas guerrilhas Bento Gonçalves com aquele reforço, e com mais 30 homens de que se compunha a sua guerrilha, ao que assenti, dissipada a cerração, veio parte dos bombeiros, de que em distância de légua atravessava uma partida Inimiga de mais de 100 homens, e pelo mesmo aviso tinham feito as guerrilhas da vanguarda, imediatamente fiz avançar os guerrilhas de minha vanguarda ao comando do intrépido capitão Anacleto Francisco Goulart, e me pus logo em marcha seguindo na minha retaguarda o brigadeiro Félix, das alturas da cochilha de Santana, avistámos a partida inimiga, na distância de mais de légua e meia ali me pediu o referido brigadeiro para que marchássemos em batalha, ao que não anuí dizendo-lhe [que] era impraticável, e desnecessário em tão longa distancia, que só servia para oprimir a tropa, diminuir a marcha, e que na distância de 40 toesas [cerca de 80 metros] do inimigo se deveria meter em linha, chegando [a]o 2.º acampamento do inimigo tive parte do capitão Anacleto, que o inimigo não mostrava ter mais reforço, que o que se apresentava na sua frente, e que sendo tão desigual em número às nossas forças, achava desnecessário que fossemos acabar de cansar a cavalhada, e que achava justo fazermos alto naquele ponto, para onde mandaria as novidades decorrentes, às 4 da tarde, tive aviso dos meus bombeiros, que ouviam alguns tiros de fuzilaria, pela qual notícia me pus em marcha para aquela direção seguindo-me os passos o dito brigadeiro ao longo da extensa coxilha, e em grande distância me uni à minhaa vanguarda, que se retirava do campo do ataque dando-me parte o capitão Anacleto, de ter ali encontrado a partida do Gonçalves em total derrota, tendo dado costas ao Inimigo, tendo este boleado alguns cavalos da partida, morto a cinco e ferido a outros muitos, a tempo que chegando o capitão Anacleto, os atacou com tal denodo, principiando a matar nos mesmos, e a fazer prisioneiros, na distância de mais de 2 léguas, em que sempre o acompanhou o capitão Gonçalves, e dois [...] da partida do referido, daquela distância retrocedeu, por causa de se achar com todos os cavalos cansados, dali fizemos pouso no acampamento que tinha sido do inimigo, tendo sido o resultado das operações deste dia na perda que sofreu o Inimigo de 20 prisioneiros, mais de 50 mortos, e para mais de 150 cavalos, 20 clavinas, 1 pistola, 3 espadas, 5 cartucheiras, 23 cartuchos, 1 lança, e 1 prisioneiro restaurado =

Dia 30
Tendo deposto os prisioneiros, que a partida destroçada era a única que se conservava naquela[s] imediações, por se ter retirado a mais força do interior de seu acampamento; e que Baltas Ogueda com 400 Homens, era mandado atacar Bagé. por cujo motivo resolvi retrogadar a minha marcha, em auxílio àquele ponto, pernoitei na principal vertente de Ibicuí =

Dia 31
Mandei pelo meu ajudante dizer a brigadeiro Matos [de novo, Félix José de Matos Pereira de Castro (1772-1823), também referido no texto como Felis ou Feliz J.e], que me via na precisa obrigação de acelerar as minhas marchas, para repelir a pretendida invasão da fronteira do meu comando, por cujo motivo marchava naquela manhã.
Este brigadeiro teve a grosseria de responder, quee sem a sua ordem não marchava = isto pelo temor de não atravessar a campanha sem a proteção da minha Cavalaria ao que tornei que a minhaa ordem se regressasse à fronteira de seu comando, da melhor forma que pudesse, e que não podia deixar de estranhar a grosseria com que regia comandâncias, apesar da prevenção do Ex.mo Sr. Conde, tendo determinado por ordem que nos deixou de sermos arimados a socorrer qualquer das fronteiras que necessitem, que não ignorava que ali (…/…) ordenava comandasse a patente mais moderna de cavalaria, ao mais antigo de infantaria em campanha, pelo contrário em praça de Armas, e fortalezas.
Fiz Pouso na Guarda de Itaquatiá, comando do Coronel Abreu.

Dia 1.º de Julho
Na hora de marcha recebi dois coices de um cavalo. Nesta guarda deixei uma patrulha de observação, ao cuidado da mesma 200 Cavalos e um vaquiano para auxílio da marcha da divisão do brigadeiro Félix, fiz Pouso na margem de Uparamoti =

Dia 2
Recebi as agradáveis notícias da derrota do Inimigo em Missões e fiz pouso na segunda vertente do mesmo arroio.

Dia 3
Pernoitei na margem de Ponche Verde; em cuja marcha continuou a ficar muita Cavalhada cansada a deixei ficar o soldado dragão João Cond.a (?) em casa do morador Ângelo de Vargas, por não poder resistir à jornada, por causa de sua ferida de bala que recebeu em uma coxa no ataque do dia 29 =

Dia 4
Pouso no arroio Piraí.

Dia 5
Chegada ao acampamento de Bagé em cuja Guarnição achei pouco mais de 100 homens, destes a maior parte inválidos, e desarmados.

Dia 6
Dirigi as minhas participações aos Ex.mos Senhores Conde Governador, General Marques [Manuel Marques de Sousa (1743-1820)], e Cambra [possivelmente o general Patrício José Correia da Câmara (c. 1737-1827)].

Dia 7
Recebi parte do falecimento do soldado dragão ferido.

Dia 8
Ordenei a Reunião da partida de observação composta de 80 Homens, que se achava postada em Piraí Grande ao mando do capitão Campelo, tendo mandado prestar a companhia de guerrilhas, composta de 46 praças, na margem do Arroio Hospital.

Dia 9
Ordenei a remessa para a prisão da capital de vários criminosos, composta de desertores, prisioneiros, e paisanos facinorosos.

Dia 10
Passou de marcha a divisão do brigadeiro Matos com direção para Aceguá.

Dia 11
Recebi ordens verbais do Ex.mo Sr. Conde pelo capitão Lousada, e apresentaram-se seis desertores do 2.º Regimento de Milícias dos que destacaram para Missões, e se acham de volta com o coronel Abreu no seu acampamento, alegando que a nudez e miséria em que se viam os obrigava a cometer esta infâmia.

Dia 12
Recebi ordem do Ex.mo Snr. Conde Governador para remeter-lhe os cavalos cansados que ficaram nestas imediações.

Dia 13
Foi reforçado o destacamento dos Hospitais com 116 praças, e mandei continuar a reunião dos homens pelos distritos desta repartição.

Dia 14
Recolheu-se a partida do alferes Silva que perseguia os desertores pelos distritos.

Dia 15
Apresentaram-se 5 desertores dos que destacaram para Missões.

Dia 16
Vieram reconduzidos à prisão deste campo 2 soldados desertores dos que destacaram para Missões, apresados pela partida do cabo José Bueno.

Dia 17
Mandei reconduzir pelo alferes Ribeiro o furriel José Inácio por ter dado coito em sua casa ao cabo desertor, Constantino de Oliveira.

Dia 18
Remessa de couros para Rio Grande que devem servir de […] para farinha de munício desta guarnição.

Dia 19
Recebi notícias dadas por um desertor da coluna do general Curado [Joaquim Xavier Curado (1746-1830)], de ter esta ficado 18 léguas aquém da Purificação, e notícias, ter Fructuoso conquistado com guerrilhas a retaguarda daquela coluna, e que retirando-se uma tarde avisaram os nossos bombeiros ao general Curado que Fructuoso se tinha acampado em uma [...] próximo à mesma Coluna, que mandando àquele general o major Bento Manoel [Bento Manoel Ribeiro (1783-1855)], com 500 homens atacá-lo, este o destroçara, retirando-se Fructuoso com mais de 100 homens, e a maior parte da sua cavalaria.

Dia 20
Recebi notícias de Missões dadas pelo marechal Mena [João de Deus Mena Barreto (1769-1849)] de ter o inimigo que repassou o Uruguai atacado-se de parte a parte por causa de preferência do saque que mereceram escapar, e do comandante; visto ter sido prisioneiro Andres Artigas, nesta peleja morreram mais de 100 insurgentes, perdendo a vida um dos pretendidos comandantes.

Dia 21
Negando-se pela 2.ª vez o major graduado de Milícias Ubaldo Pinto [possivelmente, Ubaldo Pinto Bandeira] com o pretexto de fingida moléstia, a fim de não vir tomar o comando do destacamento da frente, ordenei-lhe portanto, que se retirasse a sua casa, o que praticou, visto conhecer que não fazia a menor falta ao Real Serviço, onde só servia de intrigar, tratar mal a toda a guarnição que o detestava, e aborrecia, tendo motivado varias deserções.

Dia 22
Apresentarm-se 4 desertores que há meses tinham fugado deste campo.

Dia 23
Tendo desertado um dos paisanos deste distrito se lhe raiunou 10 bestas mansas que possuia, em observância das ordens.

Dia 24
Ordenou-se a tapagem dos trapos e cercas dos quartéis, destruído[s] pelas praças do Batalhão que ficaram neste campo, quando marchou para Santana esta divisão.

Dia 25
Recolheram-se os bombeiros de Taquarembó e não dão novidade.

* * *

Fonte
- Arquivo Histórico de Itamaraty, AHI-REE-00918, "Documentos de militares contra Artigas" - Manuscrito, 14 folhas.

Imagem
- "CARTA TOPOGRAPHICA DA PROVINCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL" (1868), do Arquivo Histórico do Museu Imperial de Petrópolis, Cota 00330-BR.RS-1868 [ver online]

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