Estreio neste blogue as memórias e cartas de oficiais orientais que nos oferecem não só uma nova perspetiva, mas que em tecitura com outras, nos ajudam a perceber o que aconteceu e como, naquele dia há 200 anos.
Estritamente falando, o exército de Artigas luta pela Liga dos Povos Livres, também conhecida como Liga Federal, um pacto entre províncias do moribundo Vice Reino do Rio da Prata, nomeadamente Banda Oriental, Corrientes, Entre Rios e Missiones, entre outros, de carácter regional e de forte cunho federalista e republicano. Esta liga reivindicava os direitos das províncias contra o partido centralista de Buenos Aires, e frequentemente estava em guerra para defender esses direitos. Só no ano anterior é que se havia chegado a um paz, altura em que Montevidéu passou para mãos orientais, mas a relação continuava instável.
Para conhecer mais sobre a perspetiva portuguesa e brasileira e sobre como a campanha corria a esta altura, visite:
Parte dada pelo major André de Latorre, comandante da ala direita das forças de Artigas nesse campo da batalha de Carumbé, em carta a Frutoso Rivera.
Arapey, Noviembre 19 de 1816.
Mi estimado Conpañero y amigo
Amigo, el 27 del pasado tuvimos un fuerte ataque en las puntas del Cuñapiru yo mandaba la ala derecha que costaba de quinientos onbres, trescientos de ynfanteria y doscientos de Caballería de ygual numero mandaba Fermin Fernandes [Ramon Fernandez].
La ysquierda dentró en el mas vivo fuego con toda serenidad. Condosi la ynfanteria debajo el fuego de la piesa de artilleria que tenia al frente con la perdida de un solo onbre; los fuegos de cañon poniendo la ynfanteria en distancia y cargo la Caballeria enemiga y dispersó la infanteria y Caballeria nuestra de modo q.e los restos de la caballeria enemiga q.e havían q.e dado fueron los q.e me comensaron aser fuego para retaguardia y no tuve mas remedio q.e descolgar la ynfanteria por una q.e bra da abajo y la Caballería q.e estaba en otra quee brada piatierra asiendo fuego de ynfanteria Como ygualmente la Caballería Enemiga sin poder operar uno ni otros.
Cuando senti los fuego por mi retaguardia y dentro la confusion en la tropa sin sufrir perdida no pude sugetar la Caballada tuvimos vna gran dispersion de tropas(,) el portugues lo mismo / mucha tropa dispersa u Muerta.
/yo estava dos dias a distansia de una Legua del Campo de Batalla y el enemigo ni tan solo un onbre parecia el [......] despues de orasiones del Campo de Batalla las Bentajas q.° Consiguio tan solas fueron el ser dueños del Campo.
/ tubimos la perdida de los Megores ofisiales q.e no se sitar por q.e los Cuerpos no sean encontrado q.e son los siguientes: Laballeja y Gatel Ruiz Dias es muerto -- y dile a Laballeja que esta la tenga por sulla q.e ya le escrito a mi Comadre. yo estoi al mando del todo de la division.
Y Manda como siempre
Andres de la Torre
Al Com. D. Frutuoso Rivera
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Transcrição da Parte do Interrogatório ao prisionero Ramón Bargas pertinentes à batalha de Carumbé
Acampamento de Iberapuitá, 7 de dezembro de 1816.
Respostas que dá o prisioneiro Ramón Bargas, paraguai
Foi perguntado quando Artigas deu a ultima batalha em Carumbé, se ele Bargas se achava na Acção.
Respondeu = Era Soldado de Infantaria da 7.ª Comp. de Belendengues, e que se achou.
Foi perguntado = Se o General Artigas se achou na acção, e quem eram os mais oficiais.
Respondeu que o própio Artigas foi quem dispoz a acção, e mandou avançar do Arroio vertente de Quaraí, que depois se retirou com uma escolta para observar a acção, e que se achavam na acção o tenente coronel de Belendengues D. Ramón Fernandez, o capitão do mesmo Regimento Andrés de LaTorre; o capitão Balta Oyera com a sua divisão de Milícias, muitos mais oficiais, entre os quais no Corpo de Belendengues se achava o Ajudante português Manuel da Rosa.
Foi perguntado que gente tinha o Artigas na acção.
Respondeu que perto de 1800 homens, 500 de infantaria entre pretos e brancos, 850 de cavalaria, e 150 charruas, minuanos e guaicurús, e perto de 300 mandurés.
Foi perguntado que gente morreu na acção de Carumbé.
Respondeu que ignora, e que sabe por um espia que veio ao campo depois da retirada de Artigas, e do Exército Português que só no lugar da cavalhada contara 104, e que não pode contar os mais que se achavam em todo o campo do ataque por ter visto uma partida portuguesa.
Foi perguntado Com que porção de cavalaria, e infantaria se retirou Artigas depois do combate.
Respondeu que se retirou com 60 homens de infantaria, e 25 de cavalaria, e que os mais se dispersaram por diferentes lugares, os quais se foram depois reunindo pouco a pouco em uma ilha entre as pontas de Arapeí aonde foi pernoitar Artigas distante do lugar do combate 3 ou 4 legoas onde se demorou 5 dias escondido no mato para reunir alguma gente, os quais se juntaram em número de 400 homens mais en menos, que deste lugar se mudara para outro Arroio vertente de Arapeí huma legoa destante.
Foi perguntado Que oficiais faltaram quando se reunirão os dispersados da acção.
Respondeu que o Tenente Gatel, o ajudante Bento Garcia, alferes Lavalleja, tenente Cordeiro, alferes Martins, tenente Silva, alferes Jacob, Carderon, Roque Grande, e mais oficiais que se não lembra, e que o tenente coronel Ramon Fernandez de Belendengues foi morto pelos seus soldados depois da acção por ter disparado no princípio do mesmo.
Foi perguntado. Quando Artigas disparou depois da acção de Carumbé que fala fez aos seus oficiais e soldados.
Respondeu = Que sendo perseguido pelos portugueses ia se precipitando de uma barranca mui alta onde a não ser advertido por um seu soldado que o desviou do precipício, e se achar montado em um bom cavalo zaino seria infalivelmente apanhado por alguns soldados que o perseguiram, e logo que chegou à ilha de que ja falou chorava de raiva pela perda que tinha sofrido.
O Latorre que ficou comandando os Belendengues, e o seu ajudante Turíbio Nação Paraguai, e o Secretário Monteroso o animaram muito, e o dissuadiram fortemente da tenção que Artigas tinha de se apresentar aos portugueses, o que sabe por ser voz constante entre toda a Tropa.
Biografias
- Major ANDRÉS FELIPE LATORRE
Fontes
- Comisión Nacional Archivo Artigas, Archivo Artigas, Montevideo, Monteverde, tomo 31.
- Diogo Arouche de Moraes Lara, “Memória da Campanha de 1816”, in: Revista trimensal de historia e Geographia, ou, Jornal do Instituto Historico e Geographico Brazileiro, n.º 27, Outubro de 1845;
- Wikipedia em língua espanhola.
- Imagens da wikicommons.
- Imagens da wikicommons.
Es realmente muy importante confrontar las visiones de unos y otros en la Batalla de Carumbé
ResponderEliminarSem dúvida, Juan, a vida de muitos milhares de pessoas, em ambos os lados da fronteira, foi afetada por esta campanha. Ramon de Cáceres, o Dr. Francisco Dionisio Martinez e outros ainda virão a este blogue contar-nos a sua história.
EliminarParabéns pelo excelente Blogue! Sou historiador, natural da fronteira Santana do Livramento-Rivera, mas resido há mais de 30 anos na Ilha de Santa Catarina. Meu principal tema de estudo tem sido o séc. XVI, mas atualmente estou escrevendo sobre um incidente que aconteceu em 1790 (ataque de coureadores clandestinos) ao arranchamento e capela guarani pós-jesuítica de Santa Ana de Yapeyú, provavelmente onde hoje se erguem Santana e Rivera. Ficaria muito feliz de trocar umas ideias com o amigo. Abraço!
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