Memórias do tenente coronel António José Claudino de Oliveira Pimentel: seleção (Parte III)
Entre o início da marcha terrestre, a 7 de Julho, até à última entrada das memórias deste oficial em 4 de Agosto, em que faz alto em Mostardas.
Lamento que a pequena parte da memoria, unica que possuo, não abranja mais que o primeiro mez de marcha. Se a tivesse completa, ser-me-ia facil indicar aos leitores o verdadeiro itinerario seguido pela vanguarda da divisão de voluntarios reaes, indicando dia por dia todas as distancias percorridas, as datas das marchas e dos descansos com a indicação dos logares de campo ou povoado e dos incidentes occoridos. Reproduzindo porém aqui o que d’este itinerario me resta, póde fazer-se idéa do que seria o todo.
[7.7]
[...] Partindo de Imbaú, a vanguarda chegou no dia 7 de julho a Villa Nova, povoação de quarenta a cincoenta vizinhos e á distancia de 18 leguas de Santa Ctharina.
[9.7]
No dia 9 foi aquartelar-se em Laguna, villa bastante povoada em relação ao paiz, e que está situada na margem esquerda do rio Tubarão, o qual vae desaguar no mar a meia legua da villa. Na sua barra podem entrar pequenas sumacas. A marcha foi de 6 leguas.
[10.7]
No dia 10 houve descanso em laguna, e no dia 11 passou a vanguarda para o lado direito do rio a 1 legua de distancia.
No dia 12, com 4 ½ leguas de marcha, acampou em Porto Rebello.
No dia 13, com 6 leguas de marcha, teve um bom acampamento junto á praia.
No dia 14, novo acampamento 5 leguas adiante, junto ao rio Vrussango.
No dia 15, tendo passado em canoas o rio Vrussango, foi a vanguarda acampar junto á Barra Velha, com 6 leguas de marcha.
No dia 16 acampou em Conventos, tendo passado em muito más canoas o rio Araringoá, que é muito caudaloso.
No dia 17, com 5 leguas de marcha, teve um pessimo acampamento em Lagoinhas, entre cómoros de areia.
No dia 18, mais 7 leguas adiante, fez-se o acampamento junto ao mar, em Aguas Claras.
No dia 19, adiante 5 leguas, houve soffrivel acampamento em Torres, estancia com duas casas.
Nos dias 20, 21 e 22 houve descanso n’este acampamento [...] É preso o capitão Pimenta por falta de subordinação e mandar o seu camarada roubar milho para os seus cavallos. Convoca os officiaes para uma conjuração contra mim, etc. [...]
No dia 23 teve a vanguarda muito mau acampamento na Cerrca dos Pregos. Tinha sido a marcha de 5 leguas. [Recomenda o itinerario que se deve marchar sempre pela praia por ser o melhor caminho.]
No dia 24, com marcha de 6 leguas, fez-se o acampamento junto á estancia do Victorino.
No dia 25, tambem a 6 leguas, foi o acampamento junto á estancia do Ignacinho.
No dia 26, com marcha de 4 leguas, acampou a vangaurda na margem esquerda do rio Tramandalú.
No dia 27, tendo passado com incrivel trabalho o rio Tramandalú, acampou a vanguarda junto á estancia de Thomas Jozé, tendo feito marcha de 4 leguas.
[...] No dia 28 houve descanso [...] O marechal de campo Sebastião Pinto parte para o Rio Grande, deixando-me o commando da vanguarda. Esta inopinada partida teve por fim desmanchar todas as disposições que o brigadeiro Bernardo da Silveira havia traçado, na qualidade de quartel mestre general, para se effectuar a marcha da divisão para Pellotas conforme as ordens do general em chefe. O marechal Pinto, antes de partir, mostrou-me uma carta de Bernardo da Silveira, em que lhe dizia que a vanguarda devia embarcar em S. Caetano, seguindo para Pellotas, onde os officiaes se podiam fornecer dos effeitos necessarios para continuarem a marcha para a Provincia de Montevideu. O marechal Pinto, rival e inimigo irrreconciliavel de Silveira, protestou com veemente acrimonia contra as disposições d’este último, e partiu a toda a pressa para o Rio Grande. Eu não posso deixar de consignar n’estes meus apontamentos o receio que tenho de futuras desordens muito prejudiciaes ao serviço de el-rei, porque noto uma interminavel indisposição do general Pinto contra o brigadeiro Silveira, o qual, na qualidade de quartel mestre general, deve dispor tudo quanto é relativo ás marchas das columnas, segundo as ordens do general em chefe. Pelo que hoje observei, o general Pinto parece-me disposto a obrar conforme ao seu capricho, sem attender a consideração alguma. Isto será sem duvida muito prejudicial ao serviço. Oxalá que eu me engane, mas o que vejo é um principio de discordia entre dois officiaes generaes e ambos chefes de departamentos. Alem d’isso temo que o orgulho e ignorancia do marechal Pinto possam produzir males incalculaveis na operações ulteriores, etc. etc. [...]
No dia 29 de julho a vanguarda acampou junto a um grande matto em Porteira da Cidreira, tendo feito marcha de 6 leguas.
No dia 30 acampou junto á casa do Quintão, onde havia deposito; a marcha foi tambem de 6 leguas.
No dia 31 fez-se acampamento em Velho Oliveira a 5 leguas do antecedente.
No dia 1.º de agosto, adiante 5 leguas, foi o acampamento em Povos.
No dia 2 fez-se o acampamento junto á casa do defunto Machado, onde havia deposito: a marcha foi de 5 leguas.
No dia 3 tambem houve acampamento junto ao logar de Mostardas, que terá uns quarenta vizinhos; a marcha foi de 5 leguas.
[O dia 4 de agosto foi o ultimo indicado no itinerario, e foi destinado a descanso.]
* * *
Retirado de: PIMENTEL, Júlio Machado de Oliveira, Memorial Biographico de um militar ilustre, O General Claudino Pimentel, Lisboa, Imprensa Nacional, 1884, pp.75-77
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