Memórias do tenente coronel António José Claudino de Oliveira Pimentel: seleção (Parte II)
Entre a chegada ao Rio da Janeiro, em 30 de Março e partida da Divisão do Rio para o Sul a 12 de Junho de 1816.
Continua da I Parte [ler]
[30-31.3.1816]
[...] Foi logo na chegada ao Rio de Janeiro [...] que tive a desagradavel noticias de que o marechal Beresford havia proposto e obtido de sua magestade uma alteração na primitiva organisação da divisão, em virtude da qual eu era privado do comando do 3.º batalhão que o governo de Portugal me havia confiado e garantido em nome de el.rei, enquanto o meu comportamento me fizesse digno d’elle. O 3.º batalhão que eu commandava, bem como o 4.º, do commando do tenente coronel João Chrysostomo Callado, estavam já designados para com elles se formarem dois regimentos de infanteria, dando o commando do primeiro ao coronel João Carlos de Saldanha, e o do segundo ao coronel Francisco de Paula Azeredo, que haviam sido despachados em Lisboa coroneis addidos aos estado maior da divisão.
Não é possivel expressar a sensação que me causou esta mudança, que me privava da gloria de commandar em campanha um corpo que eu havia organisado e disciplinado com tanto zêlo, não poupando fadigas nem mesmo despezas, como é bem notorio, para ter o dissabor de o entregar ao coronel Saldanha, que muitos mezes antes tinha vindo para o Rio de Janeiro. Fiz logo tenção de levar os meus queixumes até aos degraus do throno, confiado, como estava, na rectidãoe justiça do monarcha. Communiquei a minha resolução ao tenente coronel Callado; não para que elle imitasse o meu procedimento, mas só para cumprir com os deveres de bom camarada e pela identidade de interesses. O tenente coronel Callado, não só approvou a minha resolução, mas até me protestou, debaixo da sua palavra de honra, que seguiria o meu exemplo n’este negocio; pedindo-me que, para obrarmos de accordo, lhe participasse tudo o que a tal respeito fosse occorrendo; pois que a questão era melindrosa por contrariar, e muito, o marechal general.
Revista e parada no largo do Paço, no Rio de Janeiro, circa 1790. |
[4.4]
No dia 4 de abril desembarcou a divisão no Rio de Janeiro e teve logar uma revista no largo do Paço, em presença de suas magestades e altezas.
O 3.º batalhão, que eu ainda commandava, não só mereceu os elogios de todos os militares que o viram n’aquella revista, mas até eu tive a venturade que el-rei lhe achasse diferença dos outros corpos pelo seu garbo, bella apparencia e uniformidade.
Acabada a revista suas magestades e altezas dignaram-se receber os cumprimentos de toda a officialidade, e finda esta recepção os corpos embarcaram para bordo dos seus respectivos navios. Eu fiquei em terra para á noite ir fallar a el-rei á quinta de S. Christovão, para onde elle tinha ido depois do beijamão.
Cheguei áquella residencia em favoravel occasião, por ter a fortuna de encontrar el-rei, quando se recolhia a pé da quinta para o palacio. Ia commigo o major do meu batalhão, José Pedro de Melo, que foi testemunha da exposição que fiz a sua magestade e das respostas benevolas e lisonjeiras d’aqeulle senhor. Depois de eu lhe haver beijado a mão, sua magestade teve a bondade de me perguntar se eu era o commandante do 3.º batalhão; ao que respondi: sim, meu senhor, sou o tenente coronel que organisou e disciplinou o 3.º batalhão,e, que quando esperava que teria a ventura de que vossa magestade approvaria os meus desvelos e assiduos cuidados na organisação e commando de um corpo que me foi confiado em nome de vossa magestade, vou ter o dissabor de deixar este commando, sem que a consciencia me accuse de haver commetido a menor falta. Eu não peço a vossa magestade que me faça coronel do 1.º regimento, mas espero da justiça de vossa magestade me conserve o commando de um corpo, cuja disciplina é filha dos meus cuidados e fadigas e do qual não me tenho tornado indigno. No exercito de Portugal, durante a ultima guerra, muitos regimentos foram commandados por tenentes coroneis, e não seria extraordinario que eu agora commandasse um novo regimento composto do batalhão que até aqui tenho commandado, com o pequeno aumento de duas companhias que se lhe vão annexar. Estou tão certo da recta justiça de vossa magestade, que ouso esperar esta graça de vossa magestade.
El-rei, cujas benevolas intenções são de todos conhecidas, respondeu-se: “Tem rasão, eu hei de satisfazel-o, e vá certo de que hei de contentar, porque tenho muito boas informações a seu respeito”.
Tive depois a honra de acompanhar el-rei até ao palacio, fazendo-me elle durante o caminho muitas perguntas relativas ao estado em que se achava Portugal. Entre as que me eram particularmente relativas perguntou-me, em que regimento havia servido, e como lhe dissesse que antes da invasão havia servido no regimento 24 de infanteria, ou infanteria de Bragança; parando e voltando-se para mim disse-me: “Não era coronel d’esse regimento um velho gordo chamado Manuel Leite? – Sim, meu senhor, era o mesmo”, respondi eu. Então el-rei voltando-se para os camaristas disse-lhes: “Lembro-me que o coronel Leite tinha farda com bandas amarellas, e que passava por ser um homem honradissimo”. Isto confirma a opinião geral de que os senhores da casa de Bragança sõ dotados de singular memoria.
Quando saía do palacio de S. Christovão encontrei na escada o marquez de Bellas e o coronel Luiz Paulino, que haviam presenceado o que eu dissera a el-rei na quinta. O marquez, depois de me comprimentar, disse-me que não devia abandonar a minha pretensão, porque sua magestade estava muito propenso a reparar a injustiça que me tinha sido feita; que el-rei gostára muito do modo por que lhe fallára; que havia perguntado por mim ao marechal general, e que este, sem ainda saber o motivo por que el-rei lhe fallára de mim, o havia informado muito favoravelmente. Acrescentou o marquez que eu devia fallar todos os dias a el-rei, e que para vir a S. Christovão me offerecia a sua carruagem, o que muito agradeci, sem o acceitar.
[5/4]
No seguinte dia de manhã communiquei ao tenente coronel Callado o que havia passado com el-rei, e elle de novo me protestou a sua cooperação de acordo commigo n’ete negocio.
No mesmo dia desembarcou a primeira brigada para a armação da Praia Grande, e sendo-me forçoso ir com o meu batalhão, fiquei privado de poder ir ao paço todos os dias.
[9.4]
No dia 9 tive ordem para entregar o batalhão ao coronel Saldanha, o que fiz no mesmo dia, tendo já de prevenção preparado todos os papeis mecessarios para a entrega legal.
Sobre o estado em que entreguei o batalhão, tanto no que respeita á disciplina, como no que se refere á escripturação, contabilidade e arranjo, appello para o testemunho do mesmo coronel Saldanha. É elle por extremo honrado e um dos mais habeis officiaes da divisão, e não deixará em duvida a veracidade da minha exposição a esse respeito. Portanto posso dizer e escrever com franqueza que o estado em que lhe entreguei o 3.º batalhão mostra bem a injustiça que se me fez, tirando-me o commando de um corpo, em cuja disciplina e arranjo puz todo o cabedal das minhas diligencias, dos meus cuidados e até o meu dinheiro, como todos sabem.
Tendo feito a entrega do 3.º Batalhão ao coronel Saldanha, obteve imediatamente do general Lecor quinze dias de licença para se ocupar exclusivamente da sua pretensão, e n’esse mesmo dia voltou a S. Christovão, tendo por companheiro Rodrigo Pinto Pizarro, que também, diz ele, era uma das victimas das prepotencias do marechal.
Sendo Claudino recebido por el-rei, deu-lhe parte de que acabava de fazer a entrega do batalhão, cujo comando esperava conservar, depois das benevolas promessas que sua majestade, havia quatro dias, lhe fizera, e pedia agora por muita mercê houvesse sua Majestade por bem informar-se do modo como ele havia cumprido as ordens para a entrega, e do estado em que a todos os respeitos se achava a administração e disciplina d’aquele corpo. Respondeu-lhe el-rei que já estava muito bem informado de tudo, e que ficasse certo de que o havia de contentar e satisfazer muito, mas que estava pensando no modo porque o havia de fazer; terminando por dizer-lhe “hei de contental-o muito, vá descansado”.
[...]
O marechal Beresford havia sido informado das queixas que os tenentes coroneis tinham levado á presença de el-rei; o seu demasiado orgulho não podia suportar nem a sombra de uma resistencia, por justa que ela fosse, da parte dos seus subordinados, maiormente vindo ela dos oficiais portugueses, que estava habituado a tratar com sobranceria e dos quais, por esse motivo, era geralmente odiado. (...)
[11.4]
Em uma recepção do paço, que teve lugar na quinta feira de Endoenças depois da cerimónia religiosa do lava-pedes, encontrou Claudino Pimentel o general Lecor, o qual, falando-lhe da questão que tanto o interessava, lhe disse que el-rei havia encarregado o conde da Barca de propor um meio de satisfazer os tenentes coroneis a quem se havia tirado o comando dos batalhões; mas que o marechal estava muito irritado, e que determinará reunir no proximo sabado, em cada d’ele Lecor, os generais e oficiais superiores da divisão, talvez com o fim de repreender os queixosos, por haverem representado a el-rei contra a suas deliberações. Claudino fez logo tenção de não comparecer n’esse reunião, escusando-se com a licença de quinze dias que o general Lecor lhe havia concedido; porém este general, cujo prudente egoismo o aconselhava a que se não comprometesse com o prepotente marechal, não consentiu n’aquela escusa e cassou a licença que havia concedido. Profundamente contrariado por este facto, não teve Claudino Pimentel outro remédio senão partir no mesmo dia para a Praia Grande.
O tempo estava ameaçador e sombrio, grossas e escuras nuvens encobriam o céu; o mar tenebroso e denegrido apresentava um torvo aspecto; mas, sem se preocupar com estes anuncios de uma proxima tormenta, Claudino embarcou em um pequeno batel, conduzido por dois remadores negros, cuja pericia nautica, por duvidosa, lhe não inspirava grande confiança. Ainda nãio chegára o fragil batel a meio da baia, quando uma daquelas trovoadas, tão subitas quanto impetuosas, que entre os tropicos são frequentes, se desencadeou com expressa serração em temporal desfeito, levantando as aguas em vagas curtas e amiudadas; soprando o vento com tal violencia qur por duas vezes esteve a ponto de sossobrar o mesquinho barco, em que Claudino ia, não como Cesar com a sua fortuna, mas, como ele próprio o dia, com as suas amarguras e desgostos.
Só pelas onze horas da noite, depois de aturada lucta com as ondas irritadas da baia, mais cego que alumiado pelo fulgor dos relampagos, pode chegar á Praia Grande, mas literalmente encharcado, e por tal sorte que d’ali lhe resultou um ataque reumático, incómodo, mas providencial; pois legitimava uma salvadora parte de doente.
[...]
[13.4]
A reunião dos generais e oficiais superiores da divisão teve efetivamente lugar no sábado dia 13 de Abril, como havia sido ordenado pelo marechal. Este, logo que entrou na sala, não vendo presente o tenente coronel do 1.º regimento, perguntou ao coronel Saldanha o motivo daquela ausencia, e ao ouvir, em resposta, que o tenente coronel estava com parte de doente, exclamou muito excitado. “é necessario perdel-o; hei de perdel-o.”. Voltando-se então para o tenente coronel Calado, severamente o repreendeu por se haver queixado a el-rei de se lhe ter tirado o comando do 4.º batalhão. Este pobre oficial, faltando ao que expressamente havia prometido ao seu colega, humilhou-se diante do prepotente e arrogante marechal, pedindo-lhe perdão, e prometendo cessar com o requerimento que fizera, traindo assim a amizade e camaradagem e os seus proprios interesses, na persuasão de que esta indigna baixeza lhe valeria a protecção do marechal
[16.4]
Logo para o dia 16 ordenou Beresford um exercicio no campo de S. Bento. Não vendo ainda ali comparecer o tenente coronel Claudino, deu ordem ao comandante da brigada, que era o brigadeiro Jorge de Avilez, para que fosse inspeccionado aquele oficial pelo cirurgião mor de brigada Alexandre Luiz Leite. Fez este facultativo a inspeção nesse mesmo dia ás onze da noite, e em resultado dela atestou a doença do inpeccionado.
[17.4]
No dia seguinte houve outro exercicio, e o marechal, parecendo ainda duvidar da realidade da doença, chamou o cirurgião mor, e com a sua altivez habitual o ameaçou para que lhe declarasse se aquela doença era real ou simulada. O facultativo não hesitou um momento em confirmar o que havia atestado. Pareceu então convencer-se da verdade; mas não se lhe aplacaram as iras, estimuladas ainda por intrigantes, a que a mamoria alude, um pouco enigmaticamente, ocultando-lhes os nomes. A irritação do marechal contra Claudino era tão patente, que todos os oficiais da divisão estavam persuadidos que ele seria infalivelmente victima do seu pundonoroso procedimento.
[18.4]
Recebendo Claudino no dia 18 uma visita do marechal de campo Sebastião Pinto de Araújo Correia, ajudante general da divisão, imaginou, ao recebel-a, que teria por fim convencel-o a abandonar a sua pretensão; porém, a visita não passou alem de um mero cumprimento de civilidade sem que, nem de leve, se falasse na questão.
[20.4]
Não aconteceu o mesmo com outra visita que, dois dias depois, lhe fez o tenente general Lecor. Esta tinha por objeto propor-lhe uma transação, que consistia em trocar com D. Alvaro da Costa, que era tenente coronel deputado do ajudante general, passando este para tenente coronel do 1.º regimento. Aqui andavam já os expedientes imaginados superiormente, pelo desejo de satisfazer Claduno, sem contrariar o marechal. Aquele, agradecendo a proposta, recusou-a a principio, por considerar que ela não satisfazia completamente as exigencias da sua honra ofendida; porém, tais foram as instancias do general Lecor, movidas unicamente pelo desejo de obstar a maiores dissabores, que, finalmente, Claudino consentiu na troca, mas declarou logo que estava profundamente convencido de que ela se não realizaria pela obstinada oposição do marechal. Não se enganava ele neste conceito.
Sabia-se que el-rei viria dentro de poucos dias à Praia Grande, e Claudino Pimentel desejava ter já a certeza da troca projetada, quando aquela vinda se realizasse, porque, a não ser assim, queria seguir resolutamente o intento de recorrer a el-rei por meio de requerimento.
[22.4]
Escreveu neste intuito, no dia 22 de abril, ao general Lecor, pedindo-lhe pronta resposta.
[30.4]
Não a tinha recebido ainda no dia 30, e então, desenganado de que o marechal o queria perder, resolveu apresentar a el-rei, pelas vias competentes, um requerimento em forma, e nesse mesmo dia o remeteu ao coronel Saldanha, pedindo-lhe o fizesse seguir oficialmente.
(...) [pede transferencia para o ExBRasil]
Depois de enviar este requerimento pelas vias competentes, escreveu novamente ao general Lecor, prevenindo-o do que havia feito e solicitando o andamento do negócio. Continuou, apesar disso, o obstinado silêncio daquele general, porque este não tinha alcançado a troca com D. Alvaro, na qual tinha tão grande empenho.
[3.5 – Pimentel escreve ao conde de Paraty.]
[4.5 – Paraty deu conhecimento da carta ao rei. Requerimento ainda não entregue.]
[5.5]
“escreveu novamente ao general Lecor, prevenindo-o de que, em vista da demora que tinha havido na apresentação do requerimento, enviaria outro diretamente ao marechal Beresford. Lecor resolveu-se então a responder que o negocio da troca projetada ainda não estava resolvido; mas se Claudino instava pela apresentação do requerimento o iria logo remeter.
[6.5]
Ainda assim, apesar das novas instancias, o requerimento não tinha saido das mãos do general Lecor no dia 6 de maio, porque este general receiava o efeito que iria aquele papel produzir no animo, já sobejamente irritado, do marechal. Resolveu então Claudino ir pessoalmente procurar o general Lecor ao seu quartel. Este general recebeu-o com extrema amabilidade, e declarou-lhe que o marechal se havia oposto com todas as suas forças à troca projetada com D. Alvaro, apesar do consentimento e até desejo manifestado por el-rei, e que, visto não se poder alcançar aquela solução, iria no dia imediato entregar o requerimento, o que efectivamente realizou.
[p.90-92] [...]
[11.5]
Confesso ingenuamente que a carta do marechal não me fez impressão alguma, porque a considerei como desabafo do seu rancor; porém, o ultimo artigo [“um official que não commandou nunca em acção o menor corpo de tropa”] era summamente melindroso para ser indifferente a um militar honrado e brioso, e por isso formei desde logo projecto de acompanhar a divisão, uma vez que ella ia entrar em campanha, para mostrar a el-rei que o marechal general era, sem conhecimento de causa, injusto para commigo. Eu espero ter a fortuna de me encontrar em presença dos inimigos da minha patria e de el-rei, e então mostrarei se sou na America o mesmo homem que fui na Europa, nos combates de Amarante, de quem tive a honra de ser ajudante de ordens, e em cuja situação não podia commandar corpo algum de tropa. Como ajudante de ordens cumpri sempre os meus deveres com dignidade e honra, sem receio que ninguem desminta esta minha asserção.
[27.5]
Carta de Lecor a Pimentel:
“O il.mo e ex.mo sr. Marquez de Campo Maior me encarrega de dizer a v. s.ª que o silencio que v. s.ª tem guardado sobre a ultima carta que s. ex.ª lhe escreveu, o faz persuadir que v. s.ª dá por acabada a questão, e que se acha contente, como um oficial que conhece em perfeição o serviço, o que me dá o maior prazer a s. ex.ª, desejando que v. s.ª me faça constar se são positivas (sic) as ideias de s. ex.ª ao mesmo respeito, para assim s. ex.ª poder mostrar a v. s.ªo quanto // o deseja contemplar, fazendo retirar qualquer proposta, que poderia dar um outro destino a v. S.ª para fora da divisão. Deus guarde a v. S.ª Quartel da Praia Grande, 27 de maio0 de 1816 = Carlos Frederico Lecor.” (apud PIMENTEL, 78)
Resposta de Pimentel:
Illmo. e Ex.mo Sr. – Tenho a honra de receber o officio que v exª me dirigiu com data de hoje, e em resposta cumpre-me dizer a v exª para conhecimento do illmo e exmo marchela general marquez de Campo Maior, que o silencio que guardei a respeito od officio, que o mesmo senhor houve por bem dirigir-me em data de 10 deste mez, foi pela convicção, em que sempre estive, de que um subdito jamais deve entrar em discussão com os seus superiores, e esperando que a minha conducta mostrará em todo o tempo a pureza dos meus sentimentos e caracter; e seja qual for o destino que sua majestade haja por bem dar-me, eu o seguirei com a mais completa satisfação. S. exª honra-me sobremaneira com o conceito que presentemente faz de mim, e espero não lhe dar motivo de arrepender-se em tempo algum. Deus guarde a v exª, Quartel na Praia Grande, 27 de Maio de 1816
Embarque da DVR na Praia Grande, 29 de Março de 1816. J. B. Debret. |
[29/5]
Foi o dia 29 de maio destinado para o embarque da divisão dos voluntarios reais, que devia em poucos dias partir para a ilha de Santa Catarina. EL-rei e os principes assistiram ao embarque, que se efectuou na praia de S. Domingos, e regressaram logo para o Rio de Janeiro.
Claudino Pimentel embarcou com quatro companhias a bordo da fragata Fénix, que era comandada pelo CMG Francisco Antonio da Silva Pacheco. Embarcaram tambem com ele os oficiais das companhias 4.ª, 5.ª, 6.ª e 8.ª, e o ajudante Claudio Caldeira. Iam ainda na mesma fragata o marechal de campo Sebastião Pinto de Araújo Correia, com os oficiais do departamento de ajudante general D. Alvaro da Costa, o major Pitta com a sua familia, o brigadeiro Francisco Homem de Magalhães Pizarro e o medico Antonio do Rego.
[29/5 a 12/6]
De 29 de maio a 12 de junho conservou-se a expedição no porto do Rio de Janeiro, e durante este tempo Claudino foi frequentes vezes ao paço. Em uma das noites, em que havia recepção em S. Cristovão, encontrou ali o marechal general, que, cumprimentando-o com amabilidade, o chamou de parte e lhe disse – formaes palavras – “Tenho muita satisfação de dizer a v sª que sua majestade está muito contente com a sua pessoa; e eu estou convencido de que a sua questão está acabada”. Ao que ele respondeu: “Agradeço infinitamente a v exª tão lisongeira noticias; mas se v exª me fala no requerimento que fiz a el-rei, sua majestade é soberano e pode decidil-o como for do seu real agrado, porque me submeterei a tudo como subdito obediente”. O marechal tornou com ar muito risonho: “Oh! Eestimo muito que a sua historia tenha acabado, e que sua majestade esteja muito contente com v sª”; e com isto se retirou
[CONTINUA]
Retirado de: PIMENTEL, Júlio Machado de Oliveira, Memorial Biographico de um militar ilustre, O General Claudino Pimentel, Lisboa, Imprensa Nacional, 1884, pp.75-77
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PARTE I [LER]
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